segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

É a economia, estúpido. A China 30 anos depois das reformas

Quando Deng Xiaoping saiu vitorioso do décimo-primeiro Comitê do Partido Comunista Chinês, em dezembro de 1978, o mundo não imaginava que as reformas econômicas implantadas a partir de então seriam tão significativas exatamente 30 anos mais tarde. Ao abandonar a economia planificada de Mao Tse-Tung e aplicar um modelo que previa mais abertura, a China deu um salto rumo a socialismo adaptado dos dias de hoje.

 

Enquanto boa parte das potências mundiais se vê diante de dilemas como a luta contra o terrorismo, o regime da República Popular da China adotou parâmetros de política – interna e externa – baseados quase que exclusivamente no pragmatismo. Protestos no Tibet são sufocados, não há liberdade de imprensa e o acesso à internet é controlado através de filtros capazes de bloquear os sites considerados "perigosos" para o regime. Mas e daí?

 

Em tempos de crise financeira, a preocupação da China é uma só: ganhar dinheiro – muito dinheiro. E não se pode dizer que os chineses vêm executando mal este projeto. O regime lamenta somente a queda na taxa de crescimento do penúltimo trimestre deste ano; "apenas" 9,9% - menos que os 10,6% e 10,4% dos trimestres anteriores.

 

Mas, olhando sob um prisma mais amplo, nesses 30 anos, o crescimento do país foi astronômico. Em 1978, ocupava a 32ª colocação no ranking das maiores economias do planeta. Hoje, 28 posições acima, inevitavelmente irá ultrapassar a Alemanha, tomando da potência européia o terceiro lugar. A proximidade com o líder Estados Unidos e o vice-líder Japão é ameaçadora para ambos.

 

Os números de fato são impressionantes. Segundo o jornal canadense The Globe and Mail, a China tem hoje 40 milhões de novos usuários de internet a cada ano, 600 milhões de telefones celulares, 2 trilhões de dólares em ações, além de ter se tornado o maior mercado consumidor de cimento – este último, prova da força de sua indústria de construção.

 

A grande dificuldade de entender o país vem da aparente dicotomia entre posições políticas e dados concretos. Ao mesmo tempo em que é um feroz crítico do sistema capitalista, a iniciativa privada já responde hoje por pouco mais de 60% do produto interno bruto (PIB).

 

O regime demonstra ter compreendido por completo como o capitalismo deve funcionar. E levou ao extremo da disciplina a aplicação desses conceitos. Hoje, já ciente do poder que detêm, os empresários chineses sabem que, diante da profunda crise financeira, chegou o momento de "cobrar" a fatia que lhes cabe em participação política e econômica. Os Estados Unidos parecem mesmo o maior alvo de um possível ressentimento.

 

Gao Xiqing, presidente da China Investment Corporation e administrador de cerca de 200 bilhões de dólares em investimentos chineses no exterior – boa parte deles nos Estados Unidos – censura a postura da política externa americana.

 

"A verdade pura e simples é que a economia dos EUA é dependente de muitos países. Então por que os americanos não se aproximam e 'são legais' com aqueles que lhes emprestam dinheiro? Conversem com os chineses e com os países do Oriente Médio. Desmobilizem as tropas no exterior e aí economizem 2 bilhões de dólares em gastos militares diários", diz em entrevista à revista The Atlantic, de Nova Iorque.

 

Para o jornalista canadense Tom Grimmer, as profundas mudanças postas em prática há 30 anos tornaram o país inclassificável da maneira formal. Os resultados obtidos, entretanto, levam-no a sugerir um rótulo novo para o projeto da China de hoje.

 

"Olhe por este ângulo: Beijing está há mais tempo sob o regime forjado por Deng (Xiaoping) do que por Mao (Tse-Tung). É comunismo? Sim, mas vamos chamar de 'Comunismo 2.0'", diz.

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