segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Trégua entre israelenses e palestinos termina na próxima sexta

Enquanto o noticiário internacional se ocupa em discutir os rumos do par de sapatos atirado em Bush, a situação no Oriente Médio permanece no vácuo de indefinição à espera de Obama. Pela manhã, a libertação por parte de Israel de 227 presos palestinos busca reforçar o governo do presidente Mahmoud Abbas à frente da Autoridade Palestina. Em meio à confusão instalada em Gaza, a região aguarda se o Hamas irá aceitar a prorrogação do cessar-fogo assinado há seis meses previsto para terminar na próxima sexta-feira. 

Fica claro, entretanto, que a trégua é aparente. Fontes deste blog no sul de Israel confirmam que os mísseis Qassam continuam a cair sobre as cidades e comunidades israelenses. A resposta por parte das autoridades do país é a manutenção do isolamento de Gaza. As forças militares não foram autorizadas a tomar qualquer atitude. Pelo menos por enquanto. 

No lado palestino, ninguém sabe ao certo quem detém a palavra final sobre se o acordo será renovado. Khaled Meshal, líder político do Hamas na Síria, já declarou que não tem intenção de se comprometer com um novo período de "calma". Se por um lado este pode ser um sinal de que haverá uma escalada de violência aberta, vale a lembrança de que não existe unanimidade entre o grupo palestino. 

Segundo o jornal israelense Haaretz, o correspondente de Meshal em Gaza, Ayman Taha, deu a entender que o Hamas não tem qualquer obrigação de seguir as declarações de Damasco. Ainda de acordo com a publicação, ao longo dos anos o grupo já tomou decisões contrárias às opiniões do líder exilado. 

Em entrevista ao The New York Times, um oficial israelense que preferiu não se identificar disse que Israel trabalha com duas possíveis interpretações para entender a ambigüidade do grupo: 1) a inexistência de uma liderança única no Hamas de hoje; 2) a busca por termos mais vantajosos durantes as negociações. 

Seja como for, as lideranças políticas de Israel e Autoridade Palestina vivem neste momento situações semelhantes. O primeiro-ministro, Ehud Olmert, apenas conta os dias para deixar o cargo sem ter conseguido qualquer avanço significativo no processo de paz; o presidente Mahmoud Abbas perdeu por completo o apoio da população de Gaza e considera a possibilidade de convocar novas eleições. 

Para tentar reconquistar a popularidade e o efetivo poder em Gaza, Abbas usa a retórica - muitas vezes, vazia. Foi o que aconteceu hoje ao comemorar a libertação dos prisioneiros palestinos. 

"Nossa felicidade não será completa até que todos os 11 mil presos (palestinos em cadeias israelenses) estejam livres. Prometemos trabalhar para libertar prisioneiros de todas as facções", disse. 

Israel costuma libertar palestinos que não tiveram envolvimento direto com a realização de atentatos terroristas - sem "sangue nas mãos", como passaram a ser chamados. 

Além de reforçar a posição do presidente palestino, o outro objetivo de Israel é libertar o soldado Gilad Shalit, seqüestrado pelo Hamas no sul do Estado Judeu em junho de 2006, quando tinha 19 anos de idade. Desde então, Israel promoveu a libertação de 900 presos palestinos, mas ninguém sabe assegurar se Shalit permanece vivo. 

Neste domingo, em comemoração aos 21 de fundação do Hamas, uma grande parada militar aconteceu em Gaza. Cerca de 200 mil pessoas compareceram ao evento, que contou com a presença de Ismail Haniyeh, primeiro-ministro de fato do território. Um dos pontos altos da festa ocorreu quando um rapaz vestido com o uniforme do exército de Israel desfilou como se fosse o próprio Shalit à procura de seus pais. 

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