terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Eleitores israelenses privilegiam pragmatismo

A campanha eleitoral israelense começou fria, mas, como a própria região, esquentou de maneira rápida e dramática. A grande novidade é a ascensão do nacionalista Avigdor Lieberman e de seu partido, o Israel Beitenu (Israel A Nossa Casa). Seja lá quem for o eleito – muito provavelmente Benjamin Netanyahu, do Likud – terá de formar um governo de coalizão. Como de costume, a sociedade israelense está dividida. Mas, dessa vez, há algumas importantes mensagens que podem ajudar a entender os dilemas pelos quais o país está passando.

Ainda sob o impacto prático-midiático da incursão em Gaza, boa parte dos israelenses optou pelo o que a imprensa internacional vem chamando de “o linha-dura”, Bibi. Olhando de fora do país, boa parte da opinião pública mundial tem interpretado a possível vitória do candidato do Likud como um voto de confiança a alguém que simplesmente não pretende negociar com o Hamas, não quer dividir Jerusalém e tem sérias restrições à criação de um Estado palestino. Pode ser, mas não é só isso.

De certa maneira, o voto no Likud pode ter origem comum ao crescimento de Lieberman, que pode ultrapassar o Partido Trabalhista de Ehud Barak e relegar a histórica legenda de centro-esquerda a uma vexatória quarta posição. Pode ser também a confirmação à doutrina fundadora do Kadima, em novembro de 2005. Mais além, pode ser um voto nostálgico em Ariel Sharon, em coma desde janeiro de 2006.

No final das contas, os israelenses estão dispostos a eleger candidatos que proponham mudanças práticas. Não somente em relação às negociações com os palestinos, mas também quanto a reformas econômicas e sociais.

Sobre o conflito árabe-israelense – e o palestino especificamente – Bibi e Lieberman têm um ponto em comum e que se destaca nesta campanha. Cada um a sua maneira defende soluções radicais, definitivas. No caso do Likud, a proposta já é conhecida há bastante tempo. Um Estado palestino só será viável quando ele não representar qualquer ameaça a Israel.

Para Lieberman, a solução envolve um plano polêmico e bastante trabalhoso. Ele propõe abertamente a revisão das fronteiras de Israel e do território em boa parte controlado pela Autoridade Palestina; da Cisjordânia, mais especificamente. Seu ponto de vista é que cidades do norte de Israel majoritariamente habitadas por população árabe deverão ser englobadas pelo futuro Estado palestino. Em troca, assentamentos judeus construídos dentro do atual território palestino passariam a fazer parte de Israel.

A mensagem das urnas é que os israelenses estão cansados de discursos ideológicos que muitas vezes não levam a lugar nenhum. Boa parte da opinião pública também acredita que medidas práticas devem ser tomadas o quanto antes, principalmente após a posse de Barack Obama. Foi assim que Sharon agiu em 2005 ao se retirar de Gaza. Unilateralmente e justamente sob o argumento da impossibilidade de manter 1,5 milhão de árabes sob controle israelense.

E este é um ponto importante, já que Israel vive o dilema da manutenção de seu caráter judaico. Em longo prazo, os atuais 1,5 milhão de árabes-israelenses poderão mudar a situação na prática – a taxa de natalidade entre os árabes é superior a dos judeus.

Por mais polêmico que seja o plano de Lieberman, ele é o único que até o momento apresenta uma proposta clara – e altamente criticável – de abordar esse impasse que é intrínseco à formação de Israel.

E por isso ele já é o maior vencedor dessas eleições. Mesmo não sendo eleito primeiro-ministro. Parece complicado. E é mesmo. 

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