sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Saldo positivo nas eleições iraquianas. Mas sem euforia

Mais de 14 mil candidatos participaram das eleições provinciais iraquianas realizadas no último sábado. Os resultados oficiais apontam a vitória do partido Dawa, do primeiro-ministro Nuri al-Maliki. A legenda recebeu a maioria dos votos, mas não houve unanimidade. Para governar o país será preciso formar coalizões. Por si só, isso já é uma tremenda evolução, levando-se em conta que Saddam Hussein costumava ser eleito com mais de 90% de aprovação popular...

Por outro lado, há denúncias de fraude. A ONG Tamouz, contratada pelos Estados Unidos para monitorar as eleições, relatou problemas envolvendo o conteúdo de cédulas em Falluja.

De qualquer maneira, segundo a opinião de analistas do The New York Times, o povo iraquiano enviou uma mensagem ambígua a suas lideranças políticas: a maior parte da população é favorável a um governo central forte em detrimento à pulverização do poder entre as regiões do Iraque. Ao mesmo tempo, porém, os eleitores demonstram que não querem que o poder fique concentrado nas mãos de um único partido.

Quase seis anos após a queda de Saddam, os iraquianos parecem ter amadurecido bastante precocemente para o regime democrático. Tanto que, como mostra o resultado eleitoral, deixam um recado avesso a maniqueísmos. Muito pelo contrário, estão em busca de um país baseado em complexas articulações.

Segundo o jornal norte-americano, a população do Iraque respondeu com entusiasmo aos candidatos que tinham como plataforma política a formação de um país unido, muçulmano, mas não sectário.

“Maliki concentrou seus discursos na reconstrução e nas melhorias das questões envolvendo a segurança do Iraque em detrimento de mensagens religiosas”, diz Jaber Habeeb, professor de ciências políticas na Universidade de Bagdá.

Muito trabalho a fazer

Mas a situação ainda está longe da ideal. Dividido entre sunitas, xiitas, curdos, turcomenos e cristãos, o Iraque permanece como um país fracionado. A província de Kirkuk é um exemplo disso. Seus habitantes foram os únicos a não tomaram parte das eleições, justamente porque a discordância étnica foi tamanha que não houve acordo sobre quem seria candidato a um dos 57 assentos do parlamento.

Apesar desta confusão toda, o saldo após o esforço eleitoral é positivo. As forças de segurança formadas pelos próprios iraquianos conseguiram razoavelmente evitar que o caos tomasse conta do país no dia da votação. Além disso, não se pode negar a importância simbólica do momento.

O jornalista iraquiano Abu Aardvark trabalha na revista de relações internacionais Foreign Policy. Sua opinião parece resumir a diversidade de expectativas após a divulgação dos resultados.

“Nunca esperei que as eleições provinciais pudessem solucionar todos os problemas do país. Foram criados novos problemas, que precisam ser reconhecidos e com os quais devemos aprender a lidar – principalmente a frustração sunita em Bagdá, os conflitos entre as próprias etnias em Anbar, a percepção de fraude eleitoral e as consequências das eleições para os curdos. Mas nada disso significa que necessariamente o desastre vai estar à espreita em cada esquina. Com sorte, poderemos aprender a contornar essas dificuldades de maneira construtiva”, diz.

Um comentário:

Anônimo disse...

E os Curdos?Cade a luta por um Curdistão?Se contentarão com este pseudo Estado?

Ricardo