terça-feira, 24 de março de 2009

As atuais complicações da Otan

Num momento em que o Paquistão quase entra em colapso e a guerra do Afeganistão se mostra mais complicada do que aparentava ser, a Otan volta a ser considerada um organismo multilateral importante. Desde a campanha do Kosovo, em 1999, a aliança militar entre EUA e Europa não entrava nas discussões internacionais com tanta força.

Com a decisão do presidente Nicolas Sarkozy de reintegrar a França ao comando militar da Otan depois de 43 anos, as articulações e o debate se tornaram mais acalorados.

A Otan passou a ter um papel mais importante justamente no final do século passado (o vinte, não custa lembrar) e início deste. Justamente pela guerra nos Bálcãs e também por ter suas forças convocadas para a invasão do Afeganistão.

E são esses os motivos fundamentais que levaram muitos opositores e partidários de Sarkozy a criticar o reingresso total na organização.

Como as campanhas militares são – e com motivo, diga-se de passagem – plenamente identificadas com objetivos político-militares americanos, os franceses questionam a aliança. Para muitos, é como se o país assinasse embaixo das decisões altamente controversas levadas adiante pelo então presidente Bush.

Na França, inclusive, chegou-se a criar um termo específico para designar esta postura política: “atlanticismo”.

“Muitos criticam a decisão sob o argumento de ela limitar a liberdade de ação francesa num mundo dominado pelos Estados Unidos. Alguns dizem acreditar que (a decisão) vai minar as chances europeias de desenvolver sua própria capacidade militar”, diz reportagem publicada no The New York Times.

Colocada de lado antes de 1999, relembrada depois, em 2001, a Otan voltou de vez às pautas. Afinal, a Rússia agora se sente ameaçada pelo ingresso da Polônia, antiga aliada e signatária do Pacto de Varsóvia, aliança militar de contraposição liderada pela URSS na época da Guerra Fria.

Além deste problema – ninguém quer melindrar Moscou –, existe agora uma enorme complicação diplomática para eleger o novo secretário-geral da organização, que passa a exercer o cargo a partir de julho deste ano.

A maior parte de seus 26 membros apoia a candidatura do primeiro-ministro da Dinamarca, Anders Fogh Rasmussen. O problema é que a decisão precisa ser unânime.

Mas a Turquia não concorda com a escolha, devido ao histórico de declarações polêmicas do dinamarquês. Em 2003, ele teria dito que não acreditava que o país muçulmano poderia se tornar um membro pleno da União Europeia.

Além disso, foi um jornal da Dinamarca que provocou a ira do mundo muçulmano ao publicar charges do Profeta Maomé, em 2006.

Como possivelmente a Otan deverá se deparar com maiores dificuldades em Afeganistão e Paquistão, entrar em choque com o mundo islâmico não é considerada uma decisão inteligente.

E assim se configura mais uma dor de cabeça para a administração Obama. Afinal, caberá aos EUA negociar com os turcos. Para os americanos, o nome que causará menos atrito é o de Peter MacKay, ministro de defesa do Canadá. Parece mais uma piada com o vizinho de cima, alvo de deboche histórico dos americanos por ser considerado irrelevante.

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