terça-feira, 17 de março de 2009

Rússia adota discurso ameaçador. E daí?

Num comunicado eloquente, o presidente russo, Dmitri Medvedev, em mais um dos rompantes que ditam a política externa do país, acusou a OTAN de expansionismo e ordenou um rearmamento militar em larga escala. Segundo ele, o arsenal nuclear russo também deverá ser renovado a partir de 2011. A informação é da AFP repercutindo as agências locais.

Declarações como esta sinalizam dados importantes: 1) a Rússia permanece na contramão da tendência mundial de evitar confrontos entre Estados; 2) o discurso inflamado ainda é uma forma de jogar problemas internos para debaixo do tapete; 3) o ocidente precisa definir com urgência uma abordagem nova e criativa capaz de manter o mínimo de estabilidade com os russos.

Num momento em que o desemprego na Rússia atinge a perigosíssima marca de 17%, a declaração de Medvedev soa como um pedido de socorro disfarçado. Além da falta de trabalho que agrava a situação de crise instalada, o país sofre também com a falta de alimentos.

Mas nem o encontro entre a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, e o chefe de diplomacia do Kremlin, Serguei Lavrov, em Genebra, há menos de duas semanas, foi capaz de amenizar o desejo de grandiosidade da dupla Putin-Medvedev.

E as intenções bélicas de Medvedev quebram a lógica de expansão diplomática de Obama. Washington ofereceu a interrupção da instalação do escudo de mísseis na Europa Oriental em troca da retirada do apoio de Moscou ao Irã. Não adiantou, ao que parece, apesar das brincadeiras envolvendo o botão de reset dado de presente a Lavrov como símbolo de um recomeço das relações russo-americanas.

De fato, vale acrescentar que as declarações do presidente russo podem ser apenas a repetição de um discurso velho e vazio. Simples nostalgia.

O Conglomerado Industrial Russo (ROT, sigla em russo) está quebrado. Ela é a companhia que detém o monopólio de toda a indústria de defesa do país. Seu presidente, Sergei Chemezov, mais um amigo de Vladimir Putin (FOV, como são conhecidos os asseclas do primeiro-ministro), declarou recentemente que 30% da defesa russa estão à beira da falência.

Mais da metade das empresas produtoras de munição e explosivos estão dentre as que correm o risco de falência. Segundo dados publicados pela revista americana The Weekly Standard, das 426 ROT, 340 somam um débito de 17,5 bilhões de dólares.

Medvedev quer fazer barulho. Mas não está em condições de bancar nada. Muito menos um confronto militar com a OTAN. 

Nenhum comentário: