quarta-feira, 27 de maio de 2009

Atentado no Paquistão dá contornos dramáticos à situação na Ásia

O gravíssimo atentado de hoje a Lahore, no Paquistão, matou 30 pessoas e deixou mais de 250 feridos. O alvo não eram os soldados das forças do país que combatem o Talibã no Vale do Swat, mas os civis da cidade considerada a capital cultural. Alguém ainda consegue ter coragem para excluir o Talibã da lista de organizações terroristas?

Curiosamente, o ataque foi direcionado ao quartel-general do serviço de inteligência, as ISI (sigla em inglês). É uma retaliação pela intensa luta que vem sendo travada e que já deixou mais de um milhão de refugiados. Mas vale lembrar que nas fileiras das ISI muitos compartilham da ideologia fundamentalista apoiada em atos talibãs. Por isso parece estranho que seu QG tenha sido atingido pelas bombas terroristas.

Mas como a situação não é tão simples, existem outras versões. Lahore é tudo aquilo que o fundamentalismo mais odeia. Uma cidade cultural e que, ao contrário da maior parte do país, conseguiu se manter relativamente estável após a onda de mudanças que tomou conta da Ásia Central depois de 11 de Setembro de 2001.

Oficiais de segurança do Paquistão defendem também a tese de que Lahore foi escolhida por ser o lar de boa parte do exército punjab paquistanês (punjab é a província mais desenvolvida e populosa e Lahore é sua capital). Acho que as duas teses podem estar corretas e não necessariamente precisam ser excludentes.

O ataque de hoje mostra como a situação está por um fio. Não apenas no Paquistão – onde a estabilidade já não existe mais –, mas em toda a Ásia. Com a ambição nuclear norte-coreana tomando proporções cada vez mais catastróficas, existe a possibilidade de em maior ou menor grau a região ser tomada pelos seguintes cenários:

Intervenção militar envolvendo China, Japão, Rússia e Coreia do Sul sobre o governo de Pyongyang – ah, nada garante que esses países estarão todos do mesmo lado; uma ação militar israelense – com ou sem apoio americano – com o propósito de impedir o desenvolvimento de armas atômicas no Irã; e uma guerra aberta que pode colocar de um lado Paquistão, OTAN e soldados americanos, e de outro, Talibã e al-Qaeda.

Acredito que pelo menos um desses três cenários deve se concretizar até o final do ano. Mas, como sempre repito, no caso do Irã, a situação só ficará mais clara após as eleições presidenciais no país, em 12 de junho. As outras duas possibilidades podem se tornar reais à medida que os discursos e ações forem expostos entre esta e a próxima semana.

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