terça-feira, 5 de maio de 2009

A hora da ação

O ano de 2009 pode passar para a história por motivos distintos. Se a estratégia de conciliação promovida por Obama der certo, será marcado como o início de uma era pacífica. Mas isso está longe de acontecer. Simplesmente porque a paz não deve ser um fim em si, mas uma conclusão após negociações entre inimigos. Afinal, não se faz paz entre amigos.

E há atualmente dois grandes atores internacionais que podem impedir a concretização dos planos oníricos do presidente americano: Irã e Rússia (ele já não conta com Afeganistão, Paquistão e o Talibã).

As aspirações iranianas se não estão claras ao menos são mais conhecidas. Mas a Rússia é um grande enigma, que ora se alia ao ocidente, ora o ameaça. Esta situação pode ser resumida pelas frequentes oscilações na relação entre o país e a OTAN.

Na semana passada, a aliança militar ocidental expulsou dois diplomatas russos de sua missão permanente em Bruxelas sob acusação de espionagem.

A escalada da tensão continua. Moscou assinou um acordo com a Abcásia e a Ossétia do Sul para patrulhar as fronteiras das duas regiões. Para piorar, a Rússia pretende enviar para o local 20 aviões militares de ataque. Ninguém sabe ao certo o que se pode esperar a partir desta grande movimentação.

Sabe-se, entretanto, que a situação de acirramento entre OTAN e os russos deve aumentar nos próximos dias, uma vez que a organização pretende realizar exercícios militares justamente na Geórgia.

Para completar este cenário, alguns fatores interessantes: Moscou se prepara para a comemoração do Dia da Vitória, em 9 de maio, que celebra o fim da Segunda Guerra Mundial. O costume é realizar uma grande parada militar. Nada mais apropriado para o momento. Além disso, o ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, declarou que não irá ao encontro entre OTAN e Rússia, marcado para o dia 19.

A ação já começou. Um grupo de soldados da Geórgia se rebelou hoje internamente. A culpa recaiu sobre a Rússia, acusada de incentivar o motim como forma de derrubar o presidente Mikhail Saakashvili. Oficialmente, o governo russo negou. 

Até que ponto esses pequenos embates indiretos entre Moscou e OTAN vão continuar ninguém sabe.

No caso do Irã, hoje o presidente Ahmadinejad se encontrou em Damasco com seu parceiro sírio Bashal al-Assad. O iraniano vai se reunir também com altos dirigentes do Hamas e aproveitou a viagem para chamar Israel de “micróbio destruidor” e provocar os EUA com uma declaração que deixa claro qual o real objetivo no caso de haver um diálogo com o ocidente:

"As circunstâncias estão mudando rapidamente em nosso favor. Estamos no caminho da vitória. Os Estados Unidos, que exerciam pressões sobre a Síria e o Irã, precisam de nós, e querem agora desenvolver as relações", disse.

Definitivamente, este não é o discurso de alguém que pretende estabelecer relações normais com os EUA. Simplesmente porque este não é o objetivo mesmo. Ahmadinejad só se dará por satisfeito quando deixar os Estados Unidos de joelhos. Como isso vai acontecer exatamente ninguém sabe, da mesmo forma que é uma incógnita o que ele qualifica de vitória concretamente.

Rússia e Irã darão o tom neste ano. O segundo mais do que o primeiro. Fica claro apenas que é chegada a hora do fim dos discursos. Ambos os países querem ação. E suas atitudes refletem esta mudança de paradigma. 

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