quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Eleições para tranquilizar o ocidente

Ao invadir o Afeganistão, em 2001, os Estados Unidos buscavam uma resposta aos atentados de 11 de Setembro. Varrer a al-Qaeda do país era uma forma de preencher a lacuna da opinião pública americana, uma vez que o governo de George W. Bush não tivera êxito em impedir que os terroristas atacassem Nova Iorque e o Pentágono. Hoje, oito anos depois, o Talibã – que abrigara Osama Bin Laden – não é mais parte da administração oficial. Mas, ainda assim, continua a ser um ator importante e destrutivo.

Ao patrocinar eleições, fica claro que a aliança ocidental comandada pelos Estados Unidos não tem apenas a missão de impedir que a al-Qaeda ou os talibãs retomem o controle do Afeganistão. Existe a intenção de criar uma rede de instituições. Um governo central, burocrático e democrático – até onde isso é possível – é apenas uma parte deste esforço.

Até que ponto, entretanto, a missão inicial teve seus objetivos desvirtuados? Apesar de nobres, o fato de este ser o primeiro pleito eleitoral no país diz bastante sobre as tradições políticas locais.

Sem a menor dúvida, a realização de eleições livres, supostamente limpas e diretas é sim uma tremenda vitória num local onde mulheres são impedidas de ir à escola.

Mas, sob custos cada vez mais elevados – de vidas civis afegãs e de soldados da coalizão, além dos financeiros, é claro –, o objetivo inicial de simplesmente expulsar o Talibã do governo e seus aliados da al-Qaeda já deixou de existir. Há tempos, o que OTAN, EUA e UE pretendem é recriar o Afeganistão das cinzas. À maneira ocidental. E, por mais justo que isso seja, trata-se de uma maneira de apaziguar a consciência de líderes governamentais por invadir um outro país.

E todo este processo eleitoral é parte disso. É uma maneira de dar a contrapartida visível aos contribuintes americanos e europeus que financiam com vidas e dinheiro esta ofensiva. Ela é sim louvável, mas não necessariamente afegã, como bem mostra artigo publicado por Jeremy Shapiro, diretor do Centro de Pesquisas sobre EUA e Europa do Instituto Brookings.

“Os ocidentais afirmam com frequência que o processo de construção de um Estado no Afeganistão será comandado por lideranças locais de acordo com os valores afegãos. A história mostra, entretanto, que uma eleição não é parte desses valores. De toda forma, elas (as eleições) não são um elemento negociável de nosso esforço de criação de instituições”, escreve.

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