segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Ahmadinejad se opõe a um Estado palestino

Eu ainda não decidi se considero Mahmoud Ahmadinejad estúpido ou um grande estrategista. Ou melhor, é bem provável que eu mesmo não saiba se a estupidez é um termo que se aplica a mim. Porque quando o presidente iraniano volta a repetir que o Holocausto é uma mentira, na verdade ele presta um grande desserviço aos palestinos que diz defender.

Ao dizer com todas as letras pela milésima vez que o Estado de Israel deve ser varrido do mapa, Ahmadinejad reafirma o argumento do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, de que o maior desafio de seu governo hoje é combater a ameaça nuclear iraniana.

Ao convencer seu gabinete, a opinião pública interna e mesmo a Casa Branca, Bibi consegue adiar a retomada dos difíceis diálogos de paz com a liderança palestina.

Na prática, ao manifestar suas crenças absurdas sobre a inexistência do Holocausto para logo em seguida reafirmar o plano de acabar com Israel, Ahmadinejad assina embaixo da doutrina de segurança de Bibi.

Vale lembrar, entretanto, que, ao fazer tais declarações – o dia em que os iranianos são conclamados às ruas para gritar “morte a Israel” –, uma outra manifestação tomava conta de Teerã: novamente os opositores ao atual governo iraniano saíram para protestar contra o resultado das eleições de junho passado.

Este é um “case” em tempo real que prova o quanto o conflito entre israelenses e palestinos favorece alguns setores – geralmente, os dominantes – do mundo muçulmano. É sempre uma válvula de escape capaz de unir vozes dissonantes em torno do ódio a Israel.

Na prática, entretanto, ele desfavorece os maiores interessados: os palestinos que permanecem sem discutir abertamente com o atual governo israelense questões-chave para a constituição de seu Estado.

Fica claro também que a solidariedade aos palestinos é apenas mais uma peça do discurso de Ahmadinejad. Mas ela não amolece seu coração quando é colocado na balança ao lado de seu projeto hegemônico regional.

Enquanto isso, Barack Obama se reúne amanhã em Nova Iorque com o próprio Bibi e também com o presidente palestino, Mahmoud Abbas. Sobre isso, matéria publicada na edição de hoje do New York Times trata de baixar as expectativas sobre o encontro:

“A Casa Branca informa que não espera alcançar qualquer grande avanço (nos diálogos entre os lados). Mas oficiais de Washington afirmam que Obama optou por manter as reuniões de forma a mostrar sua determinação em retomar o processo”.

Ou seja, o objetivo é sair bem na foto. Interessa ao presidente americano – que enfrenta uma baixa de popularidade –, ao próprio Netanyahu – que vai arrastando o assunto enquanto pode –, mas não aos palestinos – que deveriam “agradecer” todo o empenho de Mahmoud Ahmadinejad.

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