quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Irã: enquanto o circo está quase armado, o mundo dá passos largos rumo ao confronto

O Irã decidiu aceitar a proposta internacional para dialogar sobre... Sobre o que mesmo? O documento de cinco páginas divulgado internacionalmente pela República Islâmica até menciona o uso de energia nuclear, mas não expõe em qualquer momento a intenção do país de debater sobre o seu próprio programa atômico. O mais interessante é que as potências (EUA, Grã-Bretanha, França, Rússia e China, além da Alemanha) aceitaram a oferta mesmo assim.

Ora, por que Teerã deveria interromper seu maior projeto regional se consegue manter a situação em ponto morto sem qualquer prejuízo?

Os Estados Unidos, principalmente, estão fazendo qualquer negócio para levar o Irã à mesa de negociações. Neste caso, é uma busca muito mais pelo retrato bonito do encontro estampado nos jornais para satisfazer a opinião pública internacional do que a mínima ilusão sobre a possibilidade de enquadrar Ahmadinejad e – menos ainda – Khamenei.

A ideia era promover o encontro antes da Assembleia Geral da ONU marcada para o próximo dia 24. Mas até isso os iranianos conseguiram barganhar e as conversações devem começar só em 1 de outubro.

A promessa, no entanto, é que tudo se transforme num grande show. Ou melhor, num circo – para ser coerente à contraproposta iraniana. E, que ninguém se engane, os resultados para o que verdadeiramente interessa – o programa nuclear do país – devem ser nulos. Por trás do assunto, existe a atual dinâmica global que envolve não apenas o projeto da República Islâmica no Oriente Médio, mas o embate entre Rússia e Estados Unidos.

A empresa Stratfor – instituição americana privada – publica análises internacionais e não poderia deixar a questão iraniana de fora de seus comentários. O Irã está para se transformar num meio de a Rússia atingir quase todos os seus objetivos internacionais. É uma tremenda ironia do destino, mas faz todo o sentido, uma vez que aplicar sanções – como os EUA desejariam em última instância – requer a aprovação russa. E Moscou não está nem aí para os problemas americanos.

Até porque, quanto mais afundados na resolução das complicadíssimas questões do Oriente Médio, menos influência os Estados Unidos teriam no que a Rússia considera ainda hoje sua zona de dominação – vale lembrar toda a problemática envolvida na possível adesão da Ucrânia à OTAN, por exemplo.

“As chances de que os russos imponham sanções efetivas sobre o Irã são inexistentes. Tal medida não os levaria a qualquer lugar. E se o fato de não cooperar com sanções levar a um ataque israelense (ao Irã), ainda melhor. Isso pode diminuir e potencialmente eliminar a capacidade nuclear de Teerã – o que, em última instância, tampouco interessa a Moscou. Um ataque enfureceria os países islâmicos em relação a Israel. Ou seja, deixaria os EUA na delicada posição de apoiar os israelenses mesmo diante de tanta hostilidade. E, sob o ponto de vista da Rússia, tudo isso aconteceria ‘de graça’, sem nenhum esforço do país”.

É preciso dizer como toda esta “conveniência” pode ser responsável por jogar mais fogo neste cenário?

Nenhum comentário: