quarta-feira, 23 de setembro de 2009

O preço que se paga

Alguns valiosos leitores deste espaço vieram me questionar pessoalmente sobre o texto de ontem. Em respeito a eles, sinto-me na obrigação de tentar me explicar ainda mais. Tudo o que escrevi teve como objetivo final procurar entender a lógica da atual política externa brasileira e como ela funciona no mundo. Apenas isso.

De qualquer maneira, um dos aspectos discutidos após a publicação foi relativo à interferência brasileira em assuntos internos alheios e quanto o país pode perder com isso.

Acho que cada caso deve ser analisado isoladamente. No exemplo hondurenho, mesmo com toda a crise que ocorre neste momento em Tegucigalpa, penso que o Brasil sai ganhando. Afinal, como escrevi ontem, consegue se transformar no porta-voz de uma “bandeira” justa apresentada durante a Assembleia Geral da ONU: a luta pela democracia e pela restituição do estado de direito.

Hoje mesmo, ao discursar em Nova Iorque, Lula tratou de capitalizar a atitude brasileira ao defender a decisão de abrigar Zelaya. Além disso, ao abrir as portas para o presidente deposto, o Brasil dá um salto – até arriscado, de certa forma – onde deixa a postura passiva de simplesmente defender o respeito à democracia e passa a atuar diretamente no conflito.

Existe sim a possibilidade de haver um desgaste brasileiro graças ao episódio em Honduras. Mas e daí? É preciso colocar na balança perdas e ganhos de todas as decisões.

Fica cada dia mais claro o quanto o governo atual pretende figurar no escalão principal das relações internacionais. Ao sair de cima do muro e se posicionar, é óbvio que Brasília não conseguirá obter unanimidade, seja internamente ou mesmo entre os países vizinhos. Este é o preço que se paga quando se decide entrar de cabeça no jogo.

Ao abrigar Manuel Zelaya na embaixada em Tegucigalpa, o Brasil simplesmente expressa na prática uma peça importante do discurso apresentado nesta manhã por Lula na ONU, quando o presidente brasileiro defendeu “uma nova ordem internacional sustentável, multilateral, menos assimétrica, livre de hegemonismos e dotada de instituições democráticas”.

A questão que se coloca é bem simples: o Brasil prefere ser avaliado positivamente pelos demais países ou escolhe o caminho de defender interesses próprios que necessariamente entram em choque com este ou aquele Estado? As atitudes que o Itamaraty vem tomando mostram qual foi a opção escolhida.

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