segunda-feira, 16 de novembro de 2009

América do Sul pode reeditar um mundo de 20 anos atrás

Talvez os venezuelanos saíssem em vantagem numa eventual guerra com a Colômbia, uma vez que já estão acostumados aos cortes de água e energia elétrica – situações comuns durante conflitos armados. Chávez pediu à população que se preparasse para “100 anos de guerra”. Um tanto exagerado, a meu ver. Mas, assim como o estranhíssimo episódio de espionagem envolvendo Chile e Peru, mostra que algo anda errado com os países vizinhos.

O melhor que o Brasil tem a fazer neste momento é aproveitar a ocasião. O governo Lula deve surfar na onda e confirmar a posição de unanimidade internacional de que o Brasil é, no momento, o mais prudente e moderado dos Estados da região.

As trocas de acusação entre Colômbia e Venezuela e Chile e Peru são retrógradas. Deixam a sensação de que esses governos ainda não perceberam que no mundo de hoje cooperação vale mais do que discursos nacionalistas; conhecimento científico e desenvolvimento econômico mais do que território. São essas as verdadeiras guerras que estão em jogo na América do Sul: a luta de alguns pelo retorno a um mundo que ruiu há exatos 20 anos.

É preciso ser ousado e convocar uma cúpula entre Colômbia e Venezuela. E talvez o Brasil fosse o melhor intermediário na disputa. Lula teria a dura missão de ser direto e impedir a guerra fria indireta e decadente que está prestes a acontecer bem do nosso lado.

Acho que o ocorrido entre Chile e Peru é um ponto fora da curva. Muito provavelmente fruto da antiga rivalidade entre os países e que, ainda hoje, ainda não está resolvida em boa parte por conta das demandas territoriais peruanas.

No caso entre Venezuela e Colômbia, no entanto, a disputa é pra valer. E os dois países saem perdendo logo de cara. Os colombianos porque deixar de fazer negócios com a Venezuela significa abrir mão de 7,6 bilhões de dólares ao ano; os venezuelanos porque ao não comprar de seu segundo maior parceiro comercial (os EUA são os primeiros, podem acreditar) deixam de receber componentes eletrônicos, bens agrícolas e químicos, comida e carros.

E adivinhem de quem Chávez promete comprar para substituir as importações da Colômbia: de Brasil e Argentina. Talvez isso explique o interesse da Venezuela em aderir ao Mercosul. E aí se configura um certo dilema para o governo brasileiro; o que valeria mais: mediar o fim das hostilidade ou buscar ser o substituto à Colômbia nas importações de Chávez?

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