segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Sebastián Piñera pode ser novidade política no Chile

Não há qualquer dúvida de que Chile e Brasil são países muito diferentes. Mas os resultados das eleições por lá podem servir como um exercício interessante para prever cenários por aqui. Ou melhor, para toda a América do Sul. Afinal, no continente as grandes mudanças políticas costumam acontecer de forma simultânea. Foi assim quando os militares tomaram o poder, quando a democracia foi restaurada, quando líderes de esquerda foram eleitos nos principais países. E agora, qual será o próximo passo?

A vitória do empresário Sebastián Piñera no primeiro turno das eleições chilenas pode até ser revertida pelo candidato de esquerda e ex-presidente Eduardo Frei. O segundo turno acontece no próximo dia 17 de janeiro, mas a simples ascensão de Piñera a favorito no pleito já é por si só um fato importante da política sul-americana. Até porque acontece pouquíssimo tempo após a reeleição de Evo Morales, na Bolívia, e da eleição de José Mujica, no Uruguai, dois nomes importantes no quadro de renovação da esquerda do continente.
Todo este contexto faz com que o êxito de Piñera possa ser considero ainda mais estranho aos rumos dos demais países. Mesmo internamente, sua vitória é avaliada como uma quebra de paradigma. Afinal, a atual presidente, Michele Bachelet, do Partido Socialista, tem seu governo aprovado por 78% dos chilenos.
Ou seja, a previsão é que ela fosse capaz de transferir esse respaldo popular para o candidato apoiado por ela. Mas Eduardo Frei ficou 14 pontos atrás de Piñera, mostrando que o eleitorado não faz escolhas automáticas. Além de tudo isso, caso Piñera realmente saia vitorioso em janeiro, será a primeira vez, desde o fim da ditadura militar de Pinochet, em 1990, que um candidato de direita assumirá a presidência do país.
Piñera tem um perfil curioso para os padrões do Chile e mesmo da América do Sul. É um bilionário que ocupa a posição de número 701 no ranking das pessoas mais ricas do mundo da revista Forbes; é o maior acionista da Lan Chile - a companhia áerea mais importante do país -, dono do canal de televisão Chilevisión e do Colo Colo, clube mais popular (uma espécie de Flamengo local, muito embora não exista nada tão grande quanto o Hexacampeão brasileiro, mas essa é outra discussão).
Duvido muito que Piñera provoque uma revolução política no resto do continente. Talvez ele seja apenas a exceção que confirma a regra. Mas é curioso trabalhar com a possibilidade de que um dos mais desenvolvidos países da América do Sul - para se ter noção, as políticas públicas realizadas pelos governos de esquerda conseguiram reduzir a pobreza de 45%, em 1990 para 13% hoje e aumentar a renda per capita para 14 mil dólares ao ano (no Brasil, ela é de 10 mil dólares) - seja governado em breve por uma espécie de Silvio Berlusconi menos afoito sexualmente (pelo menos até que se prove o contrário).

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