terça-feira, 19 de janeiro de 2010

A complexa relação entre Estados e corporações

A batalha retórica que acontece até o momento entre Google e China coloca em questão não apenas os fatos envolvendo os detalhes desta investigação. Como escrevi no texto da última sexta-feira, o caso põe em xeque também a relação entre empresas privadas e Estados-nação quando há confluência de interesses em áreas estratégicas, como segurança.

E não importa se o conceito de segurança se aplicaria ao universo virtual - como ocorreu durante a invasão promovida às contas de email de ativistas de direitos humanos na China - ou à realidade no campo de batalha. E quando se fala na atuação de empresas privadas em guerras, a Blackwater não pode passar em branco, com o perdão do trocadilho.
Maior grupo privado em atuação desde o início da invasão ao Iraque, a Xe, nome atual da corporação, voltou a ser notícia sem grande destaque por aqui. O governo iraquiano entrou com uma ação na Justiça nesta semana contra a empresa em nome de cidadãos feridos ou que tiveram parentes mortos durante suas operações.
O episódio mais polêmico envolvendo a Blackwater aconteceu em 2007, quando 17 civis foram mortos por seus soldados numa praça de Bagdá. O imbróglio é problemático do ponto de vista judicial. Afinal de contas, os funcionários devem responder como civis ou militares?
De toda forma, a crescente relação entre governos e empresas privadas em questões relativas à segurança só tende a aumentar. Pouca gente parou para pesquisar, mas a próxima leva de envio de militares ao Afeganistão, anunciada no fim do ano passado pelo presidente Obama, incluirá nada menos do que 56 mil soldados-funcionários de empresas privadas. Hoje já há mais agentes de segurança privados no Afeganistão do que militares das forças armadas americanas.
Acredito que regular a relação entre Estados e corporações será um dos maiores desafios deste início de século. Está cada vez menos claro o limite de atuação de um e de outro. Como questões de segurança envolvem gastos astronômicos e lucros igualmente altos, ninguém duvida de que governos e capital privado estarão juntos em busca de poder, ganhos estratégicos e rendimentos.

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