terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Momento crucial da guerra no Afeganistão

Enquanto Paquistão, Egito e Arábia Saudita apresentam mudanças que podem ser interpretadas positivamente, a situação no Afeganistão não inspira tanta confiança. O epicentro da guerra ao terror americana se equilibra sobre pilares bastante tênues nos últimos dias. Aliás, na última semana, cada novo dia apresentou novidades tão importantes quanto alarmantes.

A ofensiva lançada há dez dias no distrito de Marjah, na província de Helmand, tem alcançado resultados positivos, mas um erro das forças da Otan causou a morte de 27 pessoas, levando inclusive o general americano Stanley McChrystal - comandante da aliança militar ocidental no Afeganistão - a se desculpar na TV.
Antes disso, porém, a coalizão comandada pelos EUA já sofrera a considerável baixa representada pela confirmação de que a Holanda irá retirar até agosto deste ano seus 1,6 mil soldados combatentes no país asiático. Por mais que ainda haja outros 60 mil militares - que serão acrescidos de outros 30 mil a serem enviados por Barack Obama -, o movimento pode dar início a uma tendência política que, sem a menor dúvida, esvaziará os esforços de Washington num momento crucial.
A ofensiva de Marjah mostra a disposição de reverter o impasse na luta contra o Talibã, mas há problemas políticos e econômicos profundos. Mesmo o governo de Cabul sofre uma tremenda crise de credibilidade internacional e local. Para pôr mais lenha na fogueira das contestações da eleição do ano passado, o presidente afegão, Hamid Karzai, anuncia hoje outra medida polêmica. Ele passa a usufruir do poder de apontar os cinco membros da Comissão Eleitoral Afegã, a mesma responsável por denunciar as fraudes do próprio Karzai no pleito de 2009.
A guerra no Afeganistão não será ganha somente com esforços militares, mas principalmente com medidas políticas e sociais capazes de promover a simpatia dos afegãos comuns com as forças que combatem o Talibã.
O grupo fundamentalista não apresenta tropas tão numerosas, mas conta com o suporte financeiro ainda intocado pelas forças ocidentais: os 3 bilhões de dólares de lucros anuais representados pela indústria do ópio que os talibãs controlam. A título de comparação e usando os dados do texto de ontem, a quantia representa o dobro do volume de ajuda financeira fornecido pelos EUA ao Paquistão, maior parceiro americano na região. Além do mais, frear os delírios de poder de Hamid Karzai é um desafio tão grande e importante quanto dobrar a resistência Talibã.

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