sexta-feira, 28 de maio de 2010

Envio de soldados para a fronteira provoca polêmica nos EUA

Como mencionei ontem, o momento não é nada positivo para a administração Obama. A imigração é um dos pontos mais delicados que o governo vai enfrentar e também será alvo de grande polêmica. O presidente decidiu, nesta semana, enviar 1,2 mil soldados da Guarda Nacional para os quatro estados do sul que fazem fronteira com o México (na foto ao lado, trecho da barreira que divide EUA e o país latino-americano). Longe de resolver o problema, a medida anunciada mostra algo de relevante nesses 16 meses de mandato: Washington não conseguiu pôr em prática as propostas anunciadas durante a eloquente campanha de 2008. Pelo contrário; a Casa Branca tem apenas reagido aos acontecimentos.

E, por consequência, não há planejamento estratégico aparente. A atuação de cartéis de traficantes mexicanos na região da fronteira é a principal justificativa para o envio das tropas. Mas este argumento não se sustenta, uma vez que houve redução considerável dos índices de criminalidade nos últimos dois anos. Ou seja, resta somente o exame do fluxo de imigrantes ilegais. Mas isso também diminuiu, por conta da crise econômica instalada nos EUA.

É impossível não associar esta decisão de Washington às leis retrógradas aprovadas recentemente pelo estado do Arizona. Para lembrar, a polícia poderá abordar qualquer pessoa suspeita de ser um imigrante ilegal. Se ela não portar documentos capazes de provar o contrário imediatamente, será presa e, posteriormente, deportada. Tal diretriz cria um inevitável clima de caça às bruxas que pode se espalhar para outros Estados americanos.

"A Casa Branca está fazendo a coisa certa. Os moradores do Arizona sabem que mais botas (refere-se aos soldados) no solo significam uma fronteira mais protegida e segura", diz a congressista democrata Gabrielle Giffords. A frase soa de alguma maneira parecida com qualquer discurso de campanha do presidente Obama? Acho que não.

Aliás, a decisão de enviar soldados para a região de fronteira lembra muito medida semelhante tomada pelo antecessor, George W. Bush. O problema é que o voto hispânico foi responsável por boa parte do sucesso eleitoral do atual líder americano. E, se a lei do Arizona se espalhar, seguramente famílias de imigrantes serão separadas. Ninguém sabe ao certo como esta massa de 12 milhões de ilegais poderá reagir.

O momento é tão ruim que o envio do contingente militar conseguiu a façanha de desagradar democratas e republicanos. Para os democratas, a decisão impede que se alcance consenso moderado; para os republicanos, a quantidade de militares anunciada é inferior ao número necessário - o senador John McCain, adversário de Obama na corrida presidencial, defendia que ao menos 6 mil soldados ficassem estacionados na fronteira com o México.

"O presidente insistiu inúmeras vezes que a aplicação das mesmas velhas estratégias da administração anterior deveria ser interrompida. Então por que ele as está repetindo?", diz editorial do Denver Post.

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