quinta-feira, 24 de junho de 2010

Encontro do G20 repete jogo de cartas marcadas

Ainda não bateu por aqui, mas nos próximos dois dias os líderes dos 20 países mais industrializados do mundo se reúnem no Canadá. Como símbolo da desigualdade, o G20 representa 85% da economia global. Curiosamente, o grupo que foi criado como expansão do G8 não deve conseguir atingir nenhuma decisão prática importante.

Aliás, cabe lembrar que, apesar da existência do G20, o G8 não foi desfeito. A reunião do seleto grupo – a seleção da seleção – também acontece no Canadá. A diferença é que ocorre em Muskoska, enquanto o G20, em Toronto. As críticas ao patrocínio governamental canadense aos encontros já são muitas. Em primeiro lugar, antes de qualquer divergência teórica, o primeiro-ministro Stephen Harper destinou 1 bilhão de dólares para cuidar da segurança, informa o Huffington Post. O político também pagou 2 milhões de dólares para a construção de um lago artificial no centro de imprensa (foto).

Além do aparato circense, é preciso recordar a primeira reunião envolvendo os chefes de Estado do grupo, há um ano e meio. Na ocasião, a ideia era debater a crise financeira que se abateu principalmente sobre EUA e Europa. Sem meias palavras, o objetivo era bem direto, como sempre, em casos deste tipo: contar com o apoio dos países emergentes para encontrar alternativas que resolvessem o problema originado nas economias desenvolvidas. Longe de qualquer discurso democrata, a intenção era basicamente esta. E agora não é diferente.

A diferença, no entanto, é que os europeus participam dos encontros mais acanhados do que nunca. O déficit enfrentado pelos países da zona do euro é um dos principais temas a serem discutidos. Quem paga o pato, para variar, são os cidadãos. O Estado quer cortar gastos e as soluções são as de sempre: demissões, redução de salários, aumento da idade mínima de aposentadoria. Desde quando isso é novidade suficiente para justificar o empenho destinado à realização de encontros como G8 e G20?

"Nas mentes do velho mundo representado pelo G8 havia a esperança de que, ao expandir o grupo, esses países poderiam espalhar o ônus de encontrar uma solução para o desastre financeiro que se abateu sobre eles. Da mesma maneira que lidou com a mudança climática, a velha geração exigia que a nova pagasse por seus pecados", escreve Adrian Hamilton, do britânico Independent.

Obviamente, os Estados em desenvolvimento, como o Brasil, sabem disso. O interesse de Lula em participar do encontro é distinto. Já que está claro que as velhas fórmulas não serão alteradas, a ideia é aproveitar este fórum para reafirmar a agenda política brasileira, sua força internacional e a urgência do Itamaraty para a reforma das arenas de discussão multilaterais. Os países em desenvolvimento vão se comportar da mesma maneira. A viagem vai valer também uma bela foto dos líderes mundiais reunidos.

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