quarta-feira, 22 de setembro de 2010

A nova onda da velha Europa

"A Onda" é um filme baseado nos relatos do professor americano Ron Jones, que, em 1967, criou um experimento com seus alunos em Palo Alto, na Califórnia, para mostrar, na prática, como Hiltler conseguiu ascender politicamente na Alemanha da década de 1930. Como o original é muito difícil de conseguir, vale assistir à refilmagem, de 2008, do diretor Dennis Gansel. Muito mais grave do que o exercício demonstrado no longa-metragem, é a nova onda política europeia. A alardeada guinada à direita ocorrida nas eleições suecas não é nada se comparada ao atual cenário do continente.

Em primeiro lugar, causou espanto o resultado obtido pelo partido de extrema-direita Democratas da Suécia por ele ter conseguido 20 cadeiras no parlamento de uma só vez. Isso representa somente 4% dos assentos, mas é um crescimento digno de nota quando se leva em consideração que o partido não tinha conseguido emplacar até agora qualquer representante. No entanto, é importante dizer que a situação será controlada por ora na medida em que o primeiro-ministro social democrata, Fredrik Reinfeldt, deve conseguir apresentar um novo governo no dia 4 de outubro.

Já no quadro político europeu mais amplo, a tendência de crescimento da extrema-direita é bastante preocupante. O Democratas da Suécia é o prolongamento das muitas variáveis continentais cujo discurso é baseado na busca por bodes expiatórios para as crises econômicas e identitárias: a Frente Nacional da França, o Vlaams Belang na Bélgica, a Liga Norte italiana, o Partido da Liberdade holandês e os similares em Dinamarca e Hungria. Todos têm em comum o forte apelo nacionalista e a identificação dos imigrantes – com mais força os muçulmanos – como os grandes culpados pelos problemas nacionais. Isso sem falar na expulsão recente dos ciganos promovida pelo presidente Nicolas Sarkozy.

Este fenômeno se deve à conjunção de alguns fatores: o fracasso dos partidos de esquerda e centro-esquerda em apresentar soluções novas, a fragilidade das comunidades de imigrantes, e a busca pelo retorno a um antigo modelo de identidade nacional diante do novo mundo que se apresenta. A grande contradição na opção pelo voto na extrema-direita é que ela não contribui com qualquer novidade, mas simplesmente rejeita a realidade que está posta. Na prática, os extremistas apenas repaginam velhas ideias preconceituosas com os novos culpados à disposição.

Antes de encerrar, acho válido citar a situação desastrosa que ronda a Alemanha, principal economia do continente e, ao lado de França e Grã-Bretanha, maior força política da União Europeia. Com o governo da chanceler Angela Merkel em franca decadência, pesquisa realizada pelo Instituto Emind identificou um "nicho de mercado" perigoso: 20% dos eleitores estão ansiosos para votar na direita. Recentemente, o político de Berlim René Stadtkewitz fundou o partido "Liberdade", que segue o modelo do homônimo neo-fascista já atuante na Holanda.

Ainda é importante relembrar o episódio envolvendo Thilo Sarrazin (foto), ex-diretor do Banco Central da Alemanha demitido por suas declarações sobre muçulmanos e judeus (ele disse acreditar que os imigrantes muçulmanos enfrentam dificuldades para entrar no mercado de trabalho devido à falta de disciplina e inteligência e chega a sugerir que tais características seriam genéticas; sobre os judeus, defendeu que o grupo compartilha um gene comum que torna seus membros diferentes das demais pessoas). Já desempregado, lançou o livro "A Alemanha se Desintegra" onde expõe todas as suas ideias.

Ao contrário do que poderia se imaginar, a obra se tornou best-seller; já vendeu 600 mil cópias em menos de um mês. Nova pesquisa, desta vez realizada pelo Instituto Forsa, mostra que 18% dos alemães votariam num novo partido de direita com princípios anti-imigratórios cujo líder fosse justamente Thilo Sarrazin. É essa a nova onda da velha Europa. Mais uma vez.

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