quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Os interesses de Ahmadinejad no Líbano

Mahmoud Ahmadinejad está no Líbano. Sua visita ao sul do país permitirá que esteja ao lado de Israel. Mais perto do que nunca, capaz inclusive de assistir à movimentação no lado israelense da fronteira, pretende lembrar a todos os envolvidos no grande conflito do Oriente Médio que o Irã é um ator a ser considerado. A visita do presidente iraniano à região está longe de marcar uma posição consensual num país marcado por profundas divisões internas.

"Ahmadinejad seria bem-vindo se pudesse se comportar como o presidente do Irã, não como o presidente de uma parte do Líbano", diz à BBC Samir Geagea, líder do partido Forças Cristãs Libanesas.

Na segunda-feira, escrevi que a visita contemplava o Hezbollah, uma vez que receber seu maior patrocinador é uma forma de voltar o discurso contra Israel, desviando o foco das investigações da ONU que pretendem esclarecer as circunstâncias em torno do assassinato do ex-primeiro-ministro Rafik Hariri, em 2005. Não se trata somente disso, obviamente.

É do maior interesse iraniano a renovação da imagem de Ahmadinejad como ator regional e, principalmente, opositor à retomada das negociações de paz entre israelenses e palestinos. Como muitos antes dele, o presidente se pretende o maior defensor da causa palestina, alguém com força suficiente para não aceitar os “termos impostos por Israel e EUA”. A causa palestina é a carta na manga mais usada por pretendentes a líderes regionais do mundo islâmico. E agora não é diferente.

Diferente mesmo é o fato de o cenário estar muito favorável a Ahmadinejad. Com a Autoridade Palestina enfraquecida por conta dos confrontos com o Hamas, o presidente Mahmoud Abbas não pode garantir qualquer compromisso que assumir com Israel. É este o ponto fraco que o iraniano não se cansa de explorar. A ideia que tenta emplacar é que somente ele - Ahmadinejad - pode causar medo ao Ocidente graças a seu programa nuclear. Não deixa de ser verdade. Mas o presidente iraniano não está nem aí para o processo de paz ou os palestinos. Ele se importa apenas com seu projeto pessoal de poder.

O seu aparecimento ao lado da fronteira israelense é mais uma jogada de sua ampla estratégia. Ainda mais agora, com o processo de paz emperrado. Como o diálogo está teoricamente parado – escrevo sobre isso posteriormente, já que notícias recentes mostram que há muitas movimentações em curso –, as pedras que o presidente do Irã diz que irá jogar contra Israel miram também outro alvo: a crescente frustração entre os palestinos. Ahmadinejad aproveita esta oportunidade para lembrar o mundo árabe e islâmico que ele representa a única solução. Mesmo que as opções que defenda representem o rompimento total.

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