sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Poço sem fundo no Afeganistão

Como complemento à análise desta quinta, os fatos parecem contribuir para a tese fatalista. Quanto mais tempo EUA e OTAN permanecerem no Afeganistão, pior a situação deve ficar. Assim, a pressão que Washington pode passar a sofrer para negociar com o Talibã tende a aumentar, já que esta não é apenas o que se poderia considerar a única saída digna, mas a única saída.

Quando escrevi que negociar com os talibãs soava contraditório, o fiz baseado no próprio conceito de radicalismo. Se al-Qaeda e o Talibã são radicais – e, de fato, o são e ambos os grupos têm enorme orgulho disso –, negociar seria uma perda de tempo, uma vez que, conceitualmente, nenhuma das organizações estaria disposta a ceder em qualquer uma de suas reivindicações. É preciso também deixar claro que discutir termos ou acordos com a al-Qaeda é absolutamente improvável e impensável. Nenhum ocupante da Casa Branca irá aceitar debater com os autores do maior atentado cometido em solo americano.

O Talibã não é a al-Qaeda, mas se propõe fundamentalista da mesma forma. Vale dizer também que o termo “fundamentalismo” expressa uma visão ocidental sobre as práticas de tais grupos. Ou seja, radicais do Talibã ou da al-Qaeda não condenam o modo de vida ou os valores praticados no Ocidente porque se pretendem fundamentalistas, mas porque, para eles, a maneira como interpretam e põem em prática as leis islâmicas é a única aceitável. Mesmo que atirar ácido no rosto de mulheres que ousam estudar seja cumprir com os mandamentos – muito embora o islamismo condene este tipo de prática.

Sobre a situação política afegã, a tendência é de retrocesso dos ganhos alcançados pelas tropas ocidentais. Até em grandes cidades onde se imaginava que poderia iniciar o processo de construção de um Estado, o projeto tem se esfacelado – casos de Jalalabad e Cabul. A intensidade dos atentados aumenta diariamente. Hoje, um desses ataques é de grande simbolismo por ter vitimado Mohammad Omar (foto), governador da província de Kunduz – região norte do país e uma das áreas mais afetadas pela atuação do Talibã.

Quanto mais a coalizão ocidental permanecer no Afeganistão, mais vai ter a perder. E com os radicais muito motivados pelas vitórias recentes, mais difíceis serão as negociações que decretarão o fim da empreitada de EUA e OTAN. Este é um poço sem fundo em número de vidas perdidas, dinheiro empregado e prestígio político.

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