terça-feira, 11 de janeiro de 2011

A frustração nacional americana por trás do tiroteio no Arizona

Acho realmente válido prosseguir um pouco mais com a discussão em torno do tiroteio no Arizona. Não apenas pelo fato em si, mas porque o debate tem se encaminhado para uma reflexão ampla política e social. E quando se trata de algo deste tipo na maior potência do planeta, é impossível negar sua importância. O momento atual gira em torno da busca por culpados pelo episódio. Apontar o dedo para o óbvio e violento protagonista é uma das facetas. Está em curso também uma tentativa de desconstrução intelectual cujo melhor resultado seria encontrar rastros de suas motivações e inspirações políticas.

Como sociedade complexa e altamente sofisticada, é natural que os EUA mergulhem nesta jornada. Há um tanto de luta por superação de traumas passados e presentes nisso. E não me refiro somente aos muitos casos de jovens que foram agentes de tragédias semelhantes em escolas e universidades. Mas existe no foco de toda esta luta para entender o novo episódio violento uma pergunta maior: por que mais uma vez isto acontece enquanto as forças armadas do país continuam a sofrer graves e dolorosas baixas nos esforços militares em Iraque e Afeganistão?

Este é o tipo de questionamento não-declarado, como se o horror do tiroteio no supermercado se potencializasse diante de duas guerras que assolam muitos filhos do país. Nos comentários políticos e nas muitas teorias publicadas na imprensa, existe algo de frustrante, desanimador. O atirador não entendeu o momento; é um jovem que não compreende as muitas dificuldades enfrentadas pelos seus pares. E isso, de fato, é verdade.

Também é verdade que Jared Loughner entende muito pouco da maior parte das complexidades políticas americanas. Fechado em seu confuso mundo de "inspirações", o rapaz é fruto do meio onde vive, como escrevi no texto de ontem. Este é um argumento que não tem como objetivo isentá-lo de punições pelo ocorrido, muito pelo contrário, mas entender que, sendo quem era, ele jamais poderia nutrir algum senso de "compreensão nacional".

Loughner é obcecado pela congressista desde 2007, quando esteve num encontro muito parecido ao do último final de semana e foi ignorado após fazer a seguinte pergunta: "O que é o governo se as palavras não têm significado?". Bom, quem tiver uma resposta à altura, favor compartilhar na caixa de comentários. O fato é que o jovem é descrito pelo amigo Bryce Tierney como uma pessoa sem qualquer ideologia que pretendia simplesmente que a "mídia elouquecesse por tudo isso".

Talvez por conta deste perfil - e dos objetivos vazios do atirador - exista um certo desejo de enquadrá-lo sob qualquer escopo teórico. Como projeto de manutenção da identidade nacional, é muito frustrante notar que mais esta tragédia - com o requinte de ter uma congressista do partido do presidente como uma das vítimas - tem origem na profunda falta de senso político e no grande vazio de ideias que, por mais contraditório que pareça, ocupa boa parte das mentes humanas.

Nenhum comentário: