segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Tiroteio nos EUA: corrida precipitada em busca de conclusões rápidas

O grande debate em curso nos EUA neste momento gira em torno das motivações que levaram Jared Loughner a atirar a esmo em Tucson, no Arizona. No foco dos 17 atingidos pelos disparos está a congressista estadual democrata Gabrielle Giffords. Há a natural politização do atentado e boa parte da imprensa americana embarcou na tese de que o movimento Tea Party é indiretamente culpado pelo acontecido. O radicalismo político que preencheu as eleições legislativas de novembro - e a consequente polarização em torno de temas com imigração e a reforma do sistema de saúde - teria criado uma atmosfera hostil.
 
Particularmente, prefiro esperar mais um pouco para chegar a tais conclusões. É claro que as tensões internas nos EUA afloraram ainda mais neste período eleitoral. Mas culpar o discurso radical do Tea Party - e as consequentes manifestações da biblioteca de imagens usada na campanha - é um tanto exagerado. De certa maneira, é aplicar uma lógica que os próprios americanos tentam não usar para interpretar, por exemplo, os atentados cometidos por fundamentalistas islâmicos. O raciocínio passa por entender os motivos que supostamente explicariam o ato - no fundo, uma forma de fazer um "favor" ao terrorista ao lhe atribuir todo o escopo teórico que, no final das contas, termina por justificar tais atitudes.
 
É bem possível que no final de tudo isso se conclua que Loughner é mais um dos muitos malucos a cometerem atos de violência no país. No entanto, isso não exclui a possibilidade de intrincadas linhas de pensamento que passem por objetivos políticos. Os indícios, inclusive, mostram isso. Mas também apontam que o rapaz de 22 anos de idade tinha suas próprias interpretações - um tanto equivocadas, por sinal - sobre o destino dos EUA. Como tantos outros malucos, acreditava em teorias da conspiração e era aficionado por personalidades distintas como Hitler e Karl Marx.
 
Ao que tudo indica, o jovem é simplesmente uma exacerbação de ícones e ideias políticas. Como todo mundo é fruto do meio onde vive, não se pode ignorar a atmosfera política no Arizona. O estado passou a ocupar as manchetes mundiais após Jan Brewer, o governador do estado, se transformar numa espécie de símbolo da luta contra os direitos dos imigrantes. Uma lei estadual discutida no ano passado permitiria às autoridades locais deportar simples suspeitos de serem imigrantes ilegais. É nesta atmosfera que Loughner vive e, sem dúvida, este não é um fato a ser ignorado. Mas daí a culpar o partido republicano pela decisão do rapaz de planejar e executar um atentado contra um ato comandado pela congressista democrata é, no mínimo, bastante precipitado.
 
Talvez esta tragédia seja uma boa oportunidade para os americanos retomarem importantes discussões, como a venda indiscriminada e legalizada de armamento ou a responsabilidade partidária durante períodos eleitorais. Afinal, por mais que os partidos não sejam culpados por atos como o deste final de semana, não se pode garantir que os ícones de violência exibidos durante a campanha sejam mal-digeridos ou interpretados de forma literal por eleitores perturbados.

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