sábado, 26 de fevereiro de 2011

Na crise da Líbia, a ONU e as potências ocidentais cometem um erro após o outro

Toda a movimentação no Oriente Médio tem servido para sacudir os muitos conceitos que envolvem a política internacional. Se há uma boa dose de realismo – com a possibilidade de os EUA terem de alterar seu discurso e serem obrigados a dialogar com o islamismo radical legitimado – , há também um apelo à justiça. E este caso se exemplifica, em boa parte, nos sucessivos pedidos por intervenção militar na Líbia.

Foto: Khadafi em pronunciamento na ONU, em 2010

“Quando civis sofreram em Kosovo, a Otan foi rápida em agir e intervir de forma a evitar a violação dos direitos humanos. No Iraque, potências ocidentais se entusiasmaram para derrubar um tirano e “estabelecer democracia”. Mas quando se fala na Líbia, a ira oficial do ocidente é completamente ausente”. Este é um trecho do editorial desta sexta-feira do jornal liberal libanês Daily Star. Acho um tanto forçado considerar que a “ira” pelos acontecimentos na Líbia é inexistente, mas o fato é que as potências têm demorado a tomar decisões práticas.

 
Sanções econômicas ou zonas de proibição de voo sobre o território líbio são medidas paliativas. Não são suficientes para impedir que Khadafi continue a ordenar o assassinato em massa e indiscriminado de opositores. Principalmente os EUA estão perdendo uma grande oportunidade de, em parte, abrir uma frente positiva com os países árabes da região – e mais ainda com suas populações. Ao contrário do colunista Hussein Ibish, da Foreign Policy, não creio que uma intervenção militar americana seria encarada pela população líbia como uma prova de que Washington está por trás das rebeliões.

 
Há um enorme clamor popular no mundo árabe para que se faça algo de forma a impedir que a violência continue. Até agora, os dirigentes europeus têm perdido o capital de confiança – se é que ainda lhes restava algum. A frieza das declarações de chanceleres e lideranças políticas europeias beira a discriminação. Enquanto a população líbia tem enfrentado o exército nas ruas, com frequência muitos dirigentes europeus demonstram temor de “uma onda de refugiados líbios” ou o descontrole do preço do barril de petróleo. É claro que o realismo político costuma superar as decisões internacionais do países, mas a atitude da União Europeia até agora é um fracasso completo. Mostra que o continente do “humanismo” perdeu de vez qualquer bom senso, qualquer traço de sensibilidade.


E isso facilita ainda mais para os EUA. Mas mesmo a Casa Branca parece receosa em agir. E é compreensível diante do histórico recente em Iraque e Afeganistão; e, ainda mais profundo, das atuações militares em Ruanda e Somália. No final das contas, no entanto, as contradições europeias e da ONU são as mais evidentes. Não custa repetir, mas a ONU presenteou Khadafi com uma vaga em seu Conselho de Direitos Humanos mesmo depois que o governo da Líbia enforcou dissidentes políticos, assassinou 1,2 mil prisioneiros e patrocinou o atentado terrorista de Lockerbie.

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