sexta-feira, 6 de maio de 2011

Al-Qaeda admite morte de Bin Laden e opta por rumo alternativo

Numa semana repleta de acontecimentos que mudam cenários importantes, devo confessar que minhas capacidades de previsão do futuro foram postas à prova. E o resultado deste teste involuntário é ambíguo. Acertei em 50% dos casos. Como interpretar esses números segue o princípio do copo cheio e do copo vazio – ou seja, cada um enxerga como quiser –, acredito que acertei onde deveria ter acertado e errei no que poderia errar. E começo com meu palpite equivocado: ao contrário do que escrevi, a al-Qaeda admitiu a morte de Osama Bin Laden.

E não há nenhum problema quanto a isso. Até porque, devo reafirmar o que é óbvio, não escrevo esses textos a partir de chutes, mas de tendências, comportamentos, análises. Seria natural que a rede terrorista insistisse em teorias conspiratórias para não acusar o golpe. Mas preferiu seguir outro caminho igualmente possível: o do martírio. Quer elevar a moral de simpatizantes e membros incentivando-os a vingar a morte de Bin Laden. Nada improvável.

E aí devo dizer que esta leitura e a outra parte do comunicado do grupo – talvez até mais importante que simplesmente admitir o sucesso da operação americana no Paquistão – apresentam mais um aspecto que tenho ressaltado nesses dias: a tendência de a al-Qaeda mudar para continuar.

“Os Estados Unidos e seu povo jamais gozarão da segurança enquanto nosso povo na Palestina não usufruir dela”, diz a declaração. Pronto, aí está. A rede terrorista muda seu discurso a partir da leitura correta do novo cenário geopolítico regional. Simplesmente, atacar americanos enquanto as manifestações populares nos países árabes deixam claro que os cidadãos estão mais preocupados com assuntos domésticos não mobiliza mais. No entanto, se a luta da al-Qaeda passa a explicitamente evidenciar um vínculo com a questão palestina, existe uma chance de o grupo conseguir de volta parte do prestígio perdido, da relevância política deixada de lado nesses tempos.

A atitude da al-Qaeda foi relativamente simples: transformar a questão palestina – até então apenas uma das muitas reivindicações na lista de acusações ao Ocidente – em protagonista ideológica do grupo. De semimarginalizado, o conflito entre israelenses e palestinos passou a ponto central da agenda. Ao longo de toda a semana, manifestei a possibilidade de que isso poderia acontecer. Agora, a al-Qaeda confirma esta hipótese.

E, neste momento em que o governo Obama ainda se refestela sobre os louros, é bem capaz de a rede terrorista preparar alguma operação contra alvos israelenses ou judaicos. E não apenas para vingar a morte de Bin Laden, mas, principalmente, para deixar claro que a mudança de atitude em relação aos palestinos deve ser levada a sério.

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