quarta-feira, 22 de junho de 2011

Por que a Guerra do Afeganistão não favorece Barack Obama

O presidente Barack Obama fará um pronunciamento aos americanos na noite de hoje em que, apostam todos os comentaristas políticos, deverá divulgar algumas informações sobre o início da retirada das tropas do Afeganistão. Para quem não se lembra, durante a campanha presidencial, em 2008, ficou relativamente claro que o então fenômeno de mudança Obama considerava a guerra do Iraque um problema de George W. Bush, mas o Afeganistão era um caso a ser levado a sério, um conflito justificável porque o território era controlado pelo Talibã e também era o principal refúgio dos membros da al-Qaeda, responsável pelos atentados de 2001.

Com Osama Bin Laden morto e sua organização cada vez mais enfraquecida, o problema americano está em boa parte resolvido. Há alguns muitos dados interessantes e importantes que devem ser conhecidos e são peças fundamentais da decisão de Washington de começar a desmantelar a estrutura militar no país. A quase exatos 500 dias das eleições americanas, pesquisa do conceituado Pew Research Center mostra que 58% dos cidadãos americanos acreditam que os EUA provavelmente deverão alcançar seus objetivos no Afeganistão. Dos entrevistados, 56% são favoráveis ao retorno dos soldados o mais rapidamente possível. Mesmo entre os 34% dos que julgam que os EUA não terão sucesso e não conseguirão atingir as metas estabelecidas nesta guerra, 75% apoiam a remoção das tropas.

Ou seja, ordenar a retirada gradual dos militares americanos agrada a todo mundo. Seja qual for a ideologia ou a opinião sobre os rumos da política externa, uma maioria importante da população é favorável ao retorno dos soldados. Este é um dado importante e que pauta decisões por dois motivos: primeiro, porque estar ao lado da opinião pública favorece o objetivo pessoal de Barack Obama de buscar a reeleição; segundo, porque reafirma a imagem do presidente de ser o porta-voz da mudança. E em boa parte ocupar este perfil no imaginário é ser diferente dos candidatos e presidentes anteriores. Nada melhor do que estreitar a distância entre o pensamento institucional de Washington e da população.

Ordenar a diminuição considerável das forças em combate no Afeganistão também reafirma o compromisso – não cumprido, diga-se de passagem – de redução dos gastos militares. Num momento de crise, os EUA não apenas aumentaram muito as despesas na luta contra o Talibã, como também se viram envolvidos em mais uma guerra, a da Líbia – conflito que se imaginava curto, rápido e eficaz, mas que já está em curso há três meses.

No entanto, é bom que se saiba que Obama pode ser – e vai ser – muito contestado durante a próxima campanha presidencial. Os dados reais da guerra são muito pouco favoráveis a ele. Quando a disputa eleitoral começar nas urnas, o número de militares americanos no Afeganistão deve chegar a 70 mil. Ou seja, mais do que o dobro dos 34 mil soldados que estavam no país quando o atual presidente tomou posse. Hoje, há 102 mil militares dos EUA em combate em território afegão. Em 2008, ainda durante a presidência de George W. Bush, o gasto anual com a empreitada foi de 43 bilhões de dólares. Em 2011, vai chegar a 118 bilhões. Para completar, desde 2001, 1.632 americanos morreram no Afeganistão. Deste total, 696 (43%) perderam suas vidas durante o mandato de Barack Obama.

Vai ser complicado se defender desta saraivada de dados negativos.

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