sexta-feira, 29 de julho de 2011

Atirador norueguês impediu, involuntariamente, avanço de medidas ainda mais restritivas na Europa

Uma das notícias mais importantes sobre este ataque foi dada por Janne Kristiansen, diretor do Serviço de Segurança Policial da Noruega: o atirador agiu sozinho. Trata-se de um criminoso não filiado a qualquer rede extremista europeia. Esta hipótese era previsível, mas os grupos radicais que se politizaram ao longo dos anos para alcançar seus objetivos não tinham como garantir este isolamento. A revelação de que Breivik agiu por conta própria, elaborou planos e tornou-os reais – tragicamente reais – é um alívio para os muitos partidos de extrema-direita.

É bom que se diga que nada disso salva o discurso extremista. Breivik marcou um tremendo gol-contra ao realizar os ataques. A imprensa e as instituições políticas europeias passaram a condenar não apenas o atentado, mas também estão dispostos a culpar o agravamento da pressão sobre imigrantes e minorias. Os dedos apontam com firmeza os próprios partidos de ultradireita como os culpados pela criação de um ambiente hostil responsável pelo surgimento de sujeitos como o atirador norueguês.

No entanto, a informação de que ele não estava formalmente vinculado a nenhum grupo ou partido ameniza. É como um bote no meio do oceano. Não melhora a situação, mas evita ou ao menos retarda a sentença de morte. E, claro, os partidos que agora estão por baixo – muito por baixo – farão uso desta informação e a propagarão aos quatro ventos.

Há muita gente – e eu me incluo nisso – que vem lembrando a popularização das ideias extremistas no mais alto-escalão político europeu. Acho que vale dizer que os acontecimentos recentes da Europa já sinalizavam não apenas o agravamento da situação em termos teóricos, mas também práticos. No meio de tanta discussão em torno do duplo atentado na Noruega alguns fatos foram esquecidos.

Por exemplo, a Dinamarca decidiu voltar a estabelecer controle de entrada de pessoas em seus postos de fronteira em maio de 2011. O país é signatário do acordo Schengen, em que os Estados permitem a livre circulação entre seus membros. Desistir do conceito básico de Schengen é uma medida drástica e fruto da enorme pressão do Partido do Povo Dinamarquês, de extrema-direita. E as polêmicas não param por aí. Em agosto de 2010, o governo francês deportou cerca de mil ciganos para Romênia e Bulgária – decisão que levantou ainda mais questões quanto ao projeto de multiculturalismo europeu. Isso apenas para restringir o cenário a grandes movimentos estatais.

Talvez, o atirador norueguês consiga, ironicamente, constranger medidas como essas. Pelo menos por algum tempo. Breivik pôs uma barreira involuntária no curso extremista que, estranhamente, não vinha recebendo muita consideração. O duplo atentado que cometeu parece ter acordado uma parte da Europa para a articulação política da ultradireita.

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