quarta-feira, 13 de julho de 2011

Crise síria: os pequenos grandes passos da política externa de Barack Obama

Os ataques às embaixadas de EUA e França sobre os quais comentei no post desta terça-feira lembram o clássico exemplo da pedra no lago. Arremessada, provoca vários círculos a partir do primeiro impacto. O caso evidenciou não apenas a tentativa do governo sírio de abafar os protestos internos em nome de um velho e desgastado slogan nacionalista, mas também permite reflexões acerca da própria diplomacia americana em atuação no país.

Foto: o embaixador Robert Ford em visita à cidade de Hama

O partido Republicano é o principal crítico da maneira como a administração Obama vem lidando com o impasse. Para parte dos representantes de oposição em Washington, a Casa Branca deveria dispensar ao regime de Bashar al-Assad a resposta mais óbvia. E isso significa ordenar um ataque militar nos moldes da reação aos abusos cometidos por Khadafi contra a população líbia. Escrevi ontem por que esta não é a opção americana a ser aplicada agora. Ou melhor, esta não é a alternativa preferencial. Obama prefere exercer o chamado “soft power” e o faz por meio de seu embaixador em Damasco, Robert Ford.

Ford é figura central neste episódio. Acompanhado do colega francês Eric Chevallier, esteve na cidade de Hama na última semana. Hama não é apenas um dos principais focos de manifestações populares contra o regime, mas também carrega em sua história enorme simbolismo na luta por direitos civis e a consequente opressão institucional. O pai de Bashar al-Assad, Hafez, ordenou o bombardeio da cidade em 1982, causando a morte de 30 mil pessoas.

Os embaixadores francês e americano foram recebidos com flores por uma multidão de revoltosos. E todo mundo sabe que os EUA não estão dentre os países mais admirados no Oriente Médio. A demonstração de apoio popular a um representante oficial de Washington é fato raro e que conta muito para o governo Obama. Conseguir este tipo de vitória diplomática é importante; principalmente às vésperas do início da corrida eleitoral americana.

O fato é que Assad ficou profundamente incomodado – apenas para usar o termo mais polido – e, além de se vingar da própria população, articulou os ataques às embaixadas. O que considera uma intervenção estrangeira inadmissível também passou a servir de fonte de inspiração; uma ideia que, talvez, possa virar o jogo a seu favor.

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