quinta-feira, 7 de julho de 2011

Irã leva mais uma na disputa regional com os EUA

A geopolítica está repleta de ironias. Esta semana é mais uma daquelas ocasiões que reafirmam isso. Curiosamente, o primeiro-ministro iraquiano, Nouri al-Maliki, e o vice-presidente do Irã, Mohammad Reza Rahimi (foto), assinaram seis acordos de cooperação. A iniciativa acontece pouco depois da aprovação de uma empreitada conjunta entre os dois países para a construção de um gasoduto no valor de 365 milhões de dólares.

Para relembrar, Irã e Iraque travaram uma das guerras mais sangrentas do final do século vinte. Mais de um milhão de pessoas foram mortas em oito anos de conflito (1980-1988). Parece que os inimigos superaram todas as diferenças na busca pelo desenvolvimento regional. Bonito isso, não é? Uma pena, no entanto, que a construção de “um mundo melhor” seja apenas um slogan de festival de rock (?). A realidade, infelizmente, permite bem menos fantasias.

O primeiro-ministro Maliki está comprometido com os iranianos. No ano de 2010, o Iraque viveu um tremendo impasse político que acabou solucionado somente quando os xiitas intervieram nas eleições e se colocaram ao lado de sua coalizão. Adivinhem quem foi fundamental para a articulação deste apoio decisivo? Acertou quem pensou no Irã. E não é para menos. Além de vizinho do Iraque, a República Islâmica liderada por Mahmoud Ahmadinejad é majoritariamente xiita em sua composição populacional. Como tratei inúmeras vezes por aqui, a grande aliança de Estados xiitas e seus beneficiários disputa a cada palmo e gesto político a liderança militar do Oriente Médio. O Irã é o líder deste grupo e, na prática, pretende exercê-la hegemonicamente.

Nada melhor para isso do que desafiar seus maiores inimigos. E o fazem com a certeza da vitória. Os EUA sairão do Iraque mais cedo ou mais tarde. Aliás, já há uma data estabelecida: o dia 1 de janeiro do ano que vem. A partir daí, ninguém sabe quais alianças serão estabelecidas pelo governo de Bagdá. A ideia dos americanos era manter dez mil soldados no país – até como forma de monitorar a movimentação dos iranianos neste território livre. No entanto, mesmo este planejamento depende de um pedido formal do primeiro-ministro Maliki. Porém, até agora, nada foi requisitado.

Isso não chega a surpreender. Principalmente por conta das opções políticas do líder iraquiano. Ele não será o primeiro nem o último a pensar em formas de manter seu cargo em detrimento de qualquer visão estratégica nacional. Ou, quem sabe, para ele o cenário ideal seja uma aliança com o Irã em que o Iraque tenha uma espécie de dívida eterna pela vitória xiita nas últimas eleições. Vale dizer, no entanto, que o governo de Teerã sai vitorioso mais uma vez. Afinal de contas, sem precisar se expor numa guerra aberta, parece que vai conseguir reforçar sua participação no futuro iraquiano mesmo depois de oito anos de esforços e presença contínua dos EUA no país. Na grande disputa de poder regional, ponto para o Irã; e derrota americana.

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