quinta-feira, 8 de setembro de 2011

A mudança política nos EUA pós-11/9

A grande imprensa daqui não mostrou grande interesse pelo debate entre os pré-candidatos republicanos à presidência dos EUA. E fez muito bem. O encontro dos que pretendem derrotar Barack Obama no ano que vem foi um circo dos horrores. Desculpem a expressão, mas os diálogos beiravam a loucura. Pelo menos sob o ponto de vista de qualquer cidadão brasileiro, é difícil entender a agenda deste novo Partido Republicano.

A mudança de prisma de um dos principais partidos políticos americanos pode ser considerada também uma das consequências mais reveladoras dos atentados de 11 de Setembro. A legenda está cada vez mais radical em seus ataques não apenas ao partido Democrata, mas a alguns dos principais pilares dos EUA: o bem-estar social, os investimentos do governo em educação e saúde, por exemplo. Isso se deve, em boa parte, a este crescimento incompreensível – novamente, sob o ponto de vista dos cidadãos comuns brasileiros, que fique claro – do Tea Party. Já escrevi isso muitas e muitas vezes, mas sempre vale repetir: estruturar o discurso político baseado somente no corte de gastos governamentais e na redução de impostos é de tal forma simplista que é difícil entender que, a partir de agora, é em torno disso que giram quase todas as discussões políticas americanas.

Os EUA pós-11 de setembro se fecharam em muitas questões. Uma delas diz respeito aos gastos em segurança. Também houve uma espécie de repúdio a um “mundo essencialmente antiamericano”. E este mundo insiste em discussões que os republicanos consideram como destinadas a derrubar o país. É o caso, por exemplo, das conversas para a redução da emissão de poluentes – rapidamente interpretadas pelos republicanos como uma fantasia paranoica que vai frear o crescimento econômico. Se as indústrias pisarem no freio, haverá ainda menos empregos num momento que já é de crise. Os membros do Tea Party bebem desta fonte. Ou seja, os trabalhadores americanos estão em risco graças a ideias de ambientalistas estrangeiros extravagantes.

Este é um ponto interessante que compõe o painel de boa parte dos partidários republicanos. O cenário é ainda pior porque se alinha a outras certezas mais radicais, muitas delas repetidas no debate desta quarta-feira.

Considerado o vencedor da noite, o governador do Texas, Rick Perry (foto), caminha a passos largos rumo à vitória. Lembram que escrevi sobre Michele Bachmann na semana passada? Ela agora ficou para trás, figurando abaixo da terceira colocação nas pesquisas. Mas esta não é nenhuma notícia animadora. Principalmente porque Perry compartilha muitas de suas ideias. Por exemplo, considera a intervenção federal em tragédias como o furacão Irene ou o Katrina fora de propósito. Para ele, Washington não deve gastar dinheiro com isso. Por conta de um discurso como este que escrevi neste mesmo texto que é difícil para os brasileiros entender a agenda do Tea Party. Imagina quem por aqui iria defender uma eventual omissão de Brasília em catástrofes como as causadas pelas chuvas em Santa Catarina ou no Rio de Janeiro?

Para piorar, Perry concorda com Bachmann. Para ambos, o Seguro Social não é apenas ruim, mas se trata de uma “monstruosidade”. Para Perry, o fato de seu adversário de partido e também pré-candidato Mitt Romney – ex-governador de Massachusetts – ter investido num plano de saúde para virtualmente todos os moradores do estado é o ponto mais fraco de sua candidatura. Ou seja, Romney é um alvo fácil nos próximos debates por ter ampliado a cobertura de saúde oferecida aos cidadãos. Este é o ambiente atual da disputa republicana. Deu para entender o que quis dizer com a expressão “circo dos horrores”?

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