quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

O que está por trás da atual troca de acusações entre EUA e Rússia

A nova rodada de tensões entre EUA e Rússia soa, para muita gente, como o lançamento de uma espécie de filme vintage sobre a Guerra Fria. Faz sentido. Principalmente porque as razões deste novo enfrentamento retórico entre os dois países se deve, em boa parte, à luta por influência regional. Os americanos não querem abandonar seus aliados da Europa Central; os russos consideram uma afronta que Washington vá se meter numa área de influência que ainda toma como a sua própria. É ou não é um jogo de poder um tanto empoeirado?

As eleições parlamentares realizadas na Rússia – cujos resultados são para lá de suspeitos – levaram para o centro das discussões internacionais um assunto que andava marginal. Principalmente porque a Casa Branca não quer repetir na Rússia o erro que cometeu no Egito e na Tunísia, quando demorou a reagir aos protestos populares que exigiam a queda dos respectivos regimes. O problema é que a complexidade geopolítica não permite uma simples esquematização dos acontecimentos. Não é possível aplicar a “fórmula” dos países árabes; primeiro porque a Rússia tem uma história completamente diferente; segundo porque os 60 mil manifestantes reunidos em Moscou na maior manifestação contra o governo desde o fim do comunismo não são os egípcios da Praça Tahrir.

Por mais que o número de gente protestando contra o regime de Putin-Medvedev seja grande, ainda não está claro se este é um movimento de massa contra o primeiro-ministro do país ou contra as fraudes eleitorais. E, além disso, a influência americana em assuntos internos russos sempre é um tema crítico.

Mais além desta troca de acusações mútuas (Putin já reforçou o discurso de que os russos contrários a seus projetos políticos estão, na verdade, obedecendo a ordens diretas da Secretária de Estado americana, Hillary Clinton), as disputas geopolíticas que de fato importam: a história não é novidade. Trata-se da batalha pela implantação do Sistema de Defesa de Mísseis Balísticos. A iniciativa americana é antiga e formalmente justificada como uma proteção do continente europeu diante das ameaças representadas pelo Irã. O problema é que, segundo o plano da Casa Branca, este armamento será instalado logo ali, ao lado da fronteira russa.

E, claro, Putin tem tudo isso em mente neste momento. Não será surpresa, por outro lado, se o governo americano passar a reforçar o discurso de democracia em Moscou. Afinal, o descontentamento do Kremlin pode induzir à dificuldade da passagem de suprimentos americanos para as tropas do Afeganistão, por exemplo. Esta polarização pode ter consequências mais graves. A Rússia já costumava embarreirar os interesses de Washington no Conselho de Segurança da ONU. Agora, deve tornar compulsória esta oposição.

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