terça-feira, 13 de março de 2012

Confronto em Gaza pode ser explicado pelas disputas regionais mais amplas do Oriente Médio

Desde a última sexta-feira, Israel e grupos radicais palestinos de Gaza retomaram os ataques mútuos. Foram 120 mísseis lançados contra o sul do território israelense. Já o exército de Israel atacou Gaza, deixando 25 mortos. Aparentemente, um cessar-fogo foi alcançado nesta terça a partir da mediação do Egito. Apesar disso, já há informações de que mísseis foram lançados contra Israel. Se essa história parece uma repetição do enredo já tão conhecido do Oriente Médio, é preciso prestar atenção a algumas particularidades importantes.

Foto: Iron Dome em ação: escudo antimísseis israelense teve aproveitamento de 86%

Aparentemente, o Hamas não foi o autor desta ofensiva. Os principais agentes da onda de disparos são Jihad Islâmica e os Comitês de Resistência Popular. O racha interno no pequeno território de Gaza é mais um exemplo da disputa regional mais ampla entre os eixos xiita e sunita. O Hamas era um aliado histórico do Irã desde que a região se dividiu estrategicamente. Por mais que a maioria dos palestinos seja sunita, como expliquei em outros textos as alianças são constituídas não apenas por filiação religiosa, mas também por interesses estratégicos.

O Hamas, grupo que controla a Faixa de Gaza desde 2007 (após expulsar os membros do Fatah), fechou com o Irã devido a seu principal objetivo: o grupo passou a buscar legitimidade como ator reconhecido do jogo regional – exatamente como conseguiu a milícia xiita Hezbollah, no Líbano. É importante deixar claro qual a meta estratégica porque ela explica boa parte do movimento atual.

Hamas e Jihad Islâmica são rivais em Gaza. O Hamas, aparentemente, pulou fora da aliança com o Irã. A ponto, inclusive, de vários dos líderes do grupo radical palestino terem declarado nos últimos dias que não irão se envolver num eventual confronto entre Irã e Israel. A ruptura entre Hamas e Teerã não aconteceu de uma hora para outra. O Hamas não apoiou a ofensiva do presidente sírio, Bashar al-Assad, contra os próprios cidadãos. A Síria, principal aliado árabe do próprio Irã, não gostou nem um pouco desta postura. Os iranianos compraram as reclamações de Damasco, até porque se agarram ao presidente sírio por motivos óbvios. Se Assad cair – e isso deve acontecer mais cedo ou mais tarde – , o Irã estará completamente isolado regionalmente (a Turquia assumiu posição independente, o Hezbollah não é um Estado nacional e, agora, nem com o Hamas Teerã pode contar).

Não por acaso, os iranianos recorreram aos adversários internos do grupo radical palestino. Jihad Islâmica e os outros agrupamentos menores contam com financiamento da República Islâmica. Em troca, precisam obedecer às ordens do patrão. Criar uma situação de instabilidade violenta com Israel é, agora, uma forma de punir o Hamas por sua recente aproximação com o eixo sunita.

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