quinta-feira, 8 de março de 2012

Esforços internacionais podem não conseguir evitar operação militar no Irã

Admito que, para alguns, o texto de terça-feira pode ter soado um tanto alarmista. No entanto, mantenho tudo o que escrevi. Mas, se os preparativos para este eventual confronto – que seria ruim a todos os envolvidos – continuam em curso, existe também um concerto internacional para evitá-lo. E ele é tão significativo porque a maior potência do planeta não está nem um pouco disposta a tomar parte em mais uma guerra no Oriente Médio. A partir disso, todos os outros atores passam a se comportar tendo claro que evitar esta guerra pode render ganhos políticos importantes. Crise é oportunidade.

Os iranianos sabem disso. Ao contrário do que os discursos tentam demonstrar, a realidade do Irã sob sanções é bem diferente: alta da inflação, desvalorização monetária e muitos entraves na exportação. Tudo isso explica, em boa parte, o novo capítulo desta dramaturgia fracassada que resume os diálogos entre Teerã e Ocidente. Desde janeiro de 2011, as negociações estão emperradas, mas agora surge um aceno da República Islâmica. A ideia é que uma nova rodada de conversações aconteça pelos menos até o próximo mês de abril. Uma das propostas de conciliação vem da Rússia, aliada do Irã e uma das principais potências que se opõem a uma operação militar.

A ideia de Moscou não é nova, mas seu grande valor é, aparentemente, conseguir deixar quase todo mundo satisfeito. O Irã poderia continuar a enriquecer urânio, mas sob supervisão internacional constante. Em fases, o país iria se enquadrar e responder a todas as dúvidas da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e, em contrapartida, as sanções cairiam aos poucos. Se esta pode soar como a solução deste problema, há pelos menos duas questões que poderiam pôr em xeque sua aplicação: a primeira delas, vem de Israel. Para Jerusalém, a questão conceitual não gira exclusivamente em torno da construção da bomba atômica pelos iranianos, mas da capacidade de eles fazerem isso. Esta é, inclusive, uma das principais barreiras atuais entre os governos americano e israelense. No caso da adoção do plano russo, esta questão ainda poderia ficar em aberto.

Outro ponto importante é o papel dos EUA e sua visão a partir desta proposta; há duas possibilidades: ou Obama irá aceitá-la, já que considera evitar a guerra um propósito maior do que capitalizar os ganhos para si ou condenará a proposta russa ao ostracismo, da mesma forma como agiu quando Brasil e Turquia alcançaram um acordo com o Irã, em 2010. Acho que agora o momento é outro, ou seja, a urgência do presidente americano para evitar um confronto desta grandiosidade é maior do que sua vaidade em entregar o protagonismo de encontrar uma solução diplomática a outros atores (mesmo que, no caso, estejamos falando dos russos). Creio que Obama pensaria exclusivamente sob o prisma do pragmatismo. Até porque ele poderia usar todo seu poder de retórica para ganhar pontos junto ao eleitorado americano, claro.

No entanto, mesmos os esforços internacionais ainda não conseguiram convencer o atual gabinete israelense de que qualquer iniciativa diplomática conseguirá impedir os iranianos de alcançarem capacidade de, em algum momento, construir seu arsenal atômico. E, apesar de toda a retórica, os próprios iranianos continuam a criar evidências que deixam margem ao discurso que coloca em dúvida a sinceridade de uma eventual distensão. Segundo a agência de notícias Associated Press (AP), fotos de satélite da base militar de Parchin, no Irã, mostram caminhões e veículos terrestres no local em movimento considerado suspeito, como se estivessem tentado limpar vestígios radioativos deixados pela realização de testes nucleares, de acordo com diplomatas entrevistados. Relatório divulgado pela AIEA aponta que Parchin é um dos lugares usados para experimentos com explosivos convencionais que teriam como objetivo a detonação de uma reação nuclear em cadeia.

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