quinta-feira, 17 de maio de 2012

A Europa e a roupa nova do rei




Li algo muito interessante sobre a crise da Grécia. Aliás, mais do que interessante, bonito, quase poético. “Com algum exagero, podemos dizer que o futuro do Ocidente depende agora do lugar de nascimento do Ocidente”. A frase é do comentarista político Timothy Garton Ash, do jornal britânico Guardian. Ele está certo, em alguma medida. A Europa é, ainda, a grande expressão cultural e política do mundo ocidental contemporâneo. A União Europeia é o maior e mais ambicioso projeto europeu de todos os tempos. A integração dos países na metade final dos anos 1990 surgiu como revolução em todos os planos e como diretriz a ser seguida em todo o mundo.

Nunca nenhum outro bloco conseguiu se aproximar do que é a União Europeia. Nem Mercosul ou Nafta puderam realizar na prática o que a UE concretizou. Um banco central único, o esforço pela paridade econômica, a moeda única, a livre circulação de pessoas. Nenhum outro bloco atingiu tantas metas. O caso do Nafta (EUA, Canadá e México) não previa a livre circulação de pessoas por motivos óbvios aos principais atores do acordo (EUA e Canadá). O Mercosul cogitou muitas vezes uma moeda única, mas economias tão distintas e a sucessão de crises quase fatais na Argentina ainda não permitiram a estabilidade necessária à implementação de qualquer integração mais profunda.
Mas o sonho da UE pode estar com os dias contados. Como Daniel Kelemen escreveu na Foreign Affairs, não se trata mais de uma crise. A situação atual deveria ser reconhecida como “normal”, na medida em que crises pressupõem brevidade temporal. Quando a crise está instalada já há mais de dois anos e não parece haver qualquer possibilidade de reversão real nos próximos meses ou mesmo no próximo ano, este não é mais um período de exceção. É, na verdade, a nova dinâmica da zona do euro. Como os europeus das duas últimas gerações não estão acostumados a isso, falta coragem a qualquer líder político para admitir o que é óbvio. Ninguém quer se suicidar politicamente, daí a tentativa de manter este lenga-lenga da “roupa nova do rei”.
No entanto, é bom deixar claro que todos estão dependentes. Muitos veículos de imprensa têm apresentado matérias em que a solução mas fácil parece ser o simples desligamento da Grécia. Isso é um equívoco. Mesmo se o país deixar a UE, a dívida permanecerá – em euros, diga-se de passagem. E a conta será paga por todos os membros cujos bancos centrais são parte integrante do Banco Central Europeu (BCE).
E a divisão de um eventual calote grego não será igualitária, mas atenderá aos parâmetros estabelecidos pelo BCE. Segundo este cálculo – baseado em índices que consideram o tamanho da população e da economia – a maior parte da dívida deverá ser paga justamente pela Alemanha (que arcaria com quase 30% do montante). Isso explica a razão de os dirigentes alemães estarem tentando encontrar uma solução para o impasse na Grécia. 

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