sexta-feira, 11 de maio de 2012

O colapso político da Grécia


Acabei não tratando da Grécia por aqui. É muito importante entender o cenário do país porque ele pode ser uma prévia do que está para acontecer nas demais economias em decadência dos chamados Estados periféricos europeus. O que disse sobre as eleições francesas vale também, em boa parte, para o fenômeno eleitoral grego: em escala ainda mais apocalíptica, as urnas se transformaram em bombas carregadas de insatisfação popular.

E não é para menos. Segundo as estatísticas oficiais, 23% dos cidadãos estão desempregados. Este número assustador é acompanhado por uma lógica econômica perversa que não permite ao país tirar o pé da lama; o Estado gasta mais em despesas com serviços públicos do que arrecada em impostos. Ou seja, a Grécia está sempre no negativo. E, a partir deste cenário, as urnas se manifestaram. Já se imaginava que os partidos tradicionais sairiam perdendo. No entanto, ninguém poderia prever que o eleitorado optaria em massa pelos extremos.

O partido Nova Democracia e o Movimento Socialista Pan-Helênico costumavam ser os principais atores do cenário político grego. Juntos, dominavam o parlamento do país desde os anos 1970. O que aconteceu na Grécia agora simplesmente ruiu prognósticos e pôs por terra qualquer tentativa de manutenção do status-quo. Essas legendas, as mais tradicionais, perderam milhões de votos. Como forma de comparação, os dois partidos receberam, em 2009, 77% dos votos; no domingo, levaram 32%. Para pôr ainda mais lenha na fogueira, novos atores radicais emergiram: as legendas de extrema-esquerda obtiveram apoio de 35% do eleitorado, enquanto os de extrema-direita conseguiram 20,5% dos votos.

O grande e assustador fenômeno ficou por conta do Alvorada Dourada, partido claramente identificado com o neonazismo e que conseguiu 7% dos votos. Pela primeira vez um partido nazista fará parte do parlamento grego a partir de apoio popular significativo – que garantiu aos seguidores de Nikos Michaloliakos (no centro da foto) 21 das 300 cadeiras no parlamento.

O caso da Grécia é único, mas ao mesmo tempo pode apontar tendências políticas comuns aos países periféricos europeus. É único porque a população pode ter votado com tamanha fúria em virtude da total descrença em relação ao revezamento bipartidário instalado. Certamente é um voto de protesto e também de punição aos responsáveis pelo estado atual de caos e completa ausência de perspectivas. No entanto, esta análise um tanto local pode ter reflexos nos demais países que atravessam situação semelhante. Portugal, Espanha, Itália e Irlanda também têm suas próprias legendas que, como de costume, apontam os imigrantes e o Euro com os culpados pela crise. Resta saber agora se a manifestação popular nas urnas – quando as eleições acontecerem – terão consequências tão assustadoras como as da Grécia.

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