quinta-feira, 28 de junho de 2012

Crise na Síria é oportunidade para a Turquia


Com toda esta confusão no Paraguai, acabei deixando um pouco de lado a situação dramática na Síria e seus mais de 14 mil mortos. Já são quase 15 meses de guerra civil e brutal repressão resultando numa média trágica de quase mil mortos por mês. Mas, como se sabe, mesmo as tragédias acabam servindo de matéria-prima para pôr em prática movimentos estratégicos. Crise é oportunidade. 

Os rebeldes curdos ainda representam a principal pedra no sapato da Turquia. Em junho, os conflitos se intensificaram e os confrontos com os separatistas turcos chegaram a deixar 28 mortos. Tudo isso, no último dia 19. Este é o tipo de divulgação internacional que Ancara certamente não deseja devido a suas pretensões regionais – principalmente para manter o prestígio popular adquirido nos últimos anos. 

O primeiro-ministro do país, Recep Tayyip Erdogan (foto), tomou decisões internacionais que acabaram por torná-lo o líder político mais admirado pelas populações dos países árabes e muçulmanos. Estremeceu as relações com Israel a partir da discussão pública com o presidente Shimon Peres, patrocinou a frota turca que entrou em confronto real com o exército israelense ao tentar furar o bloqueio a Gaza e se colocou como um ator relativamente independente e, muito importante, capaz de se “vender” como alguém que está sempre ao lado das “causas humanitárias”. Suas escolhas políticas procuram reforçar publicamente esta mesma linha. É claro que esta impressão não se estende aos curdos, mas política é bem isso mesmo: mais vale a imagem construída do que a realidade dos fatos. 

Com essa ideia fixa de se reafirmar como o protetor do povo, Erdogan rompeu com a Síria. O episódio de derrubada por parte das forças de Bashar al-Assad de um caça turco que sobrevoava o território sírio foi revertido a partir desta lógica: mais uma vez, o primeiro-ministro da Turquia enxergou nova oportunidade de ganhar mais popularidade com a opinião pública árabe e muçulmana. E ao mesmo tempo deixou de lado qualquer tentativa de crítica ao tratamento dispensado aos curdos. De uma só vez, dois grandes objetivos estão sendo atingidos. 

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