quinta-feira, 23 de agosto de 2012

A simples existência do WikiLeaks obriga o mundo inteiro a fazer algumas reflexões importantes


Ainda sobre o caso de perseguição internacional a Julian Assange, preciso deixar claro algumas questões: não se trata de subestimar ou desqualificar o suposto crime de estupro. Mas é preciso dar dimensão real aos acontecimentos. Assange é alvo das polícias de países importantes não porque seja ameaçador às mulheres. Ou isso não está claro o bastante?

Também deixei em aberto uma pergunta no final do último post. Vou respondê-la: não tenho a menor dúvida de que a prisão e eventual extradição de Assange da Suécia para os EUA criaria um mito de grande poder. O fundador do WikiLeaks já é admirado por uma parcela considerável de pessoas que o veneram pela exposição dos segredos de governos e corporações. Se for preso – ou pior, morrer – irá gravar seu nome para sempre como um mártir da liberdade de informação. Não tenho a menor dúvida.

É bom deixar claro que o próprio Assange sabe disso. Vale lembrar também que ele foi a pessoa mais votada em 2010 na eleição para escolher o “Homem do Ano” da popular e respeitada revista Time. No entanto, os editores preferiram eleger o excêntrico Mark Zuckerberg, fundador do Facebook. Na época, lembro de ter visto uma paródia excelente do humorístico americano Saturday Night Live. Interpretado pelo comediante Bill Hader (foto), “Assange” expõe a seguinte contradição: “eu dou a vocês informações privadas das corporações gratuitamente. E eu sou o vilão. Mark Zuckerberg dá as suas informações para as corporações em troca de dinheiro e ele é o homem do ano!”. Precisa dizer mais alguma coisa?

O WikiLeaks incomoda muito. Principalmente governos e empresas. Acho que, no mínimo, a existência da organização de Assange estabelece uma grande reflexão sobre o modo de conduta e como este, muitas vezes, é contraditório ao que é dito publicamente. O mundo mudou, a informação está muito mais acessível – pelo menos nos países democráticos, que, aliás, se orgulham disso – e os governos acharam que a demanda da população nunca iria mudar? Quer dizer, as pessoas aceitariam que a falta de transparência dos governos permanecesse a mesma? Que o governo poderia continuar a trabalhar com documentos secretos e conversas privativas exatamente como aconteceu durante todo o século vinte, por exemplo? 

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