quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Reeleição de Obama é a vitória da “Nova América”


Para alívio da maior parte do planeta, Obama venceu. A lógica dos colégios eleitorais favoreceu o presidente, mas sua vitória foi ainda mais significativa: a estratégia democrata também foi vitoriosa e mostra a capacidade do partido de entender quem são os novos americanos, quem representa sua base de apoio e como falar com eles. A mudança que Obama prometia em 2008 não veio como se imaginava, até por conta da herança catastrófica deixada por Bush. Mas a “mudança” que determinou o resultado dessas eleições é tão significativa quanto o slogan da campanha de quatro anos atrás: um novo país está nascendo e foi ele que emergiu fortalecido das urnas. 

Obama sabia que sua base de apoio excluía, em boa parte, o extrato social que compunha o imaginário dos EUA: homens brancos cristãos. Essa parcela da população – que durante a maior parte da história americana foi o retrato do país – está diminuindo. E, com isso, o quadro político também está mudando. Obama não apenas é parte desta mudança como cidadão, mas também representante político voluntário dessas pessoas. Quero dizer com isso que o presidente sabe o que a “Nova América” espera dele, mas também se coloca como parte deste grupo. O voto em bloco de todas as minorias em Obama determinou sua vitória. 

A estratégia democrata simplesmente adequou três fatores simples: o discurso natural de Obama (ou seja, ele não precisou se “violentar” para reafirmar valores que já eram seus), o aspecto ideológico do partido, e a interpretação óbvia de dados sobre o tecido social e populacional americano disponíveis a quem quisesse consultá-los; segundo os números do censo norte-americano, na primeira década deste século, a taxa de crescimento dos cidadãos americanos de origem asiática foi de 43,3%. A população negra cresceu 12%, e os latinos, 43%. O crescimento da população branca foi de apenas 5,7%. Hispânicos, negros e asiáticos correspondem hoje a 50,4% do total de crianças nascidas nos EUA. 

Nas urnas, deu a lógica. Entre os latinos, 70% votaram em Obama; entre a população negra, 96%. E Obama foi vitorioso não apenas por ele mesmo ser negro, mas porque inclui as minorias em seu discurso, porque as considera parte dos EUA, porque não se nega a debater e escutar o que pensam, porque é parte de um partido que tem esta tradição. É natural que as pessoas identifiquem o presidente como alguém que os representa. Principalmente porque, do outro lado, os republicanos insistem em fazer escolhas que remetem à “Velha América”, um país conservador branco e que não faz nenhuma questão de esconder sua preferência pela população mais rica. A rejeição ao Obamacare e à ideia do presidente de taxar a parcela mais rica dos americanos acabou não convencendo negros e latinos de que os republicanos os representavam. De acordo com pesquisa do Centro Conjunto para Estudos Políticos e Econômicos, em 1940, 42% dos negros entrevistados se declaravam republicanos (índice similar aos que se declararam democratas). Quatro anos atrás, 76% se assumiram como democratas e somente 2%, republicanos. 

A derrota nas urnas na eleição desta terça-feira é apenas uma constatação de que os republicanos erraram a mão e encontram cada vez menos apoio – o Tea Party é um movimento forte, mas extremamente “nichado”. Por isso, em declaração à CNN, Steve Schmidt, estrategista do partido Republicano, classificou o resultado e a campanha como uma grande catástrofe. “Esta é, esta deve ser, a última vez que que o partido Republicano tenta vencer desta maneira”. Ou seja, excluindo a realidade de que o país está mudando e se colocando como representante dos EUA do passado, cuja população tende a se tornar cada vez mais minoritária. Se os republicanos insistirem em adotar a mesma estratégia, já podemos começar a pensar em qual candidato democrata irá suceder Obama daqui a quatro anos. 

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