terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Colapso do Estado egípcio e a brecha que pode ser preenchida pelo radicalismo


Li um artigo interessante no blog da Economist dedicado ao Oriente Médio. Uma frase em especial me chamou a atenção: “dois anos após a transição e sete meses de administração da Irmandade Muçulmana falharam em restaurar o senso de responsabilidade”. O texto fala sobre o Egito e comenta a situação de caos do país. Mergulhado em crise, o Estado egípcio não consegue voltar a ser um Estado de fato. A crise não é apenas econômica ou política, mas institucional, impedindo qualquer progresso e criando um impasse cujas consequências são sentidas pela população comum, como de costume. A nova revolta que eclodiu nas ruas se espalhou, deixou a já lendária Praça Tahrir para tomar outros centros importantes, como Port Said e Suez. 

A Primavera Árabe no Egito ainda é uma lacuna. Ao contrário de tantas afirmações mais esperançosas que realistas, não se trata de revolução, mas de um processo ainda em curso. Como se podia imaginar, as eleições que colocaram a Irmandade Muçulmana na presidência estavam contaminadas pelo rancor um tanto natural em relação ao ex-presidente Hosni Mubarak. O voto em Mohammed Mursi foi mais de protesto do que de projeto; ou seja, a população comum que derrubou Mubarak pela força das manifestações sem lideranças políticas seguiu a lógica de apostar no maior grupo de oposição organizado que existia no país. 

Agora, o próprio Mursi é acusado pela oposição de ser um líder “autocrático que redigiu uma nova constituição que não protege a liberdade de expressão ou religião”. Ora, isso é realmente surpreendente? Quer dizer, o que se esperava do líder da Irmandade Muçulmana alçado à presidência? Para o Ocidente, este não é mais um problema da comunidade internacional. Só haveria uma chance de interferência; um fator externo que levasse os líderes de Europa e EUA a acreditar que, assim como aconteceu na Líbia, a al-Qaeda pudesse se infiltrar no Egito. 

Mohamed al-Zawahiri, irmão do líder da al-Qaeda, Ayman al-Zawahiri, declarou em entrevista ao Asharq Al-Awsat – jornal árabe publicado em Londres – que o caos no Egito só será controlado a partir da aplicação total da sharia, a lei islâmica. Lembrando que os Zawahiri são egípcios e Mohamed é um importante líder salafista no país. O salfismo é um movimento islâmico ultraconservador cujos modelos são os chamados salafis (ancestrais), os primeiros muçulmanos contemporâneos ao profeta Maomé. O partido Nour é a expressão política mais bem sucedida do salafismo no Egito e obteve 25% dos assentos no parlamento, ficando atrás somente da própria Irmandade Muçulmana. 

Ao contrário do que aconteceu na prática na Líbia, as potências ocidentais não vão se conformar com o colapso do Estado egípcio e sua eventual tomada pela al-Qaeda. 

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