terça-feira, 15 de janeiro de 2013

O realismo de Barack Obama


Fontes oficiais americanas confirmam que os EUA pretendem retirar todas as suas tropas do Afeganistão logo depois da desocupação oficial das forças da Otan (a aliança militar ocidental) marcada para o ano que vem. Esta informação é um sinal de como deve ser a gestão internacional neste segundo mandato do presidente Obama. 

Há no momento muita discussão sobre as diretrizes da política externa de Washington. As escolhas de Chuck Hagel, para o Pentágono, e John Kerry, para a Secretaria de Estado, apontam os caminhos pretendidos pelos presidente. Se os anos de Bush foram marcados pelas ofensivas no Afeganistão e no Iraque, o primeiro mandato de Obama não representou um rompimento com este padrão definido por muita gente como de “episódios aventureiros e gerenciamento de crises”. Por mais que seja um tanto abrangente, esta definição faz sim algum sentido. 

Mas, juntando os primeiros sinais deste início de janeiro, é possível perceber que a Casa Branca está mudando os rumos. Se Hagel e Kerry ganharam seus cargos por boas doses de exposição ideológica, o presidente tende a transformar esta ideologia numa prática mais conservadora. E me refiro a este termo em seu uso corrente aqui no Brasil; as “aventuras” internacionais serão evitadas ao máximo, e a cúpula do governo vai pensar bastante antes de tomar qualquer decisão mais contundente para além de suas fronteiras. Obama, Hegel e Kerry estudarão cada caso com muita cautela e, nos bastidores, vão trabalhar para enxugar os custos de ações internacionais. A austeridade econômica que o momento exige também será, em grande parte, um guia para a política externa. Os EUA devem se comportar como alguém que gastou demais no cartão de crédito e precisa pagar as parcelas restantes antes de iniciar novas aquisições. 

Por isso, os cargos-chave neste mandato serão ocupados por pessoas que concordam com a posição original de Obama de que a guerra deve ser usada como último recurso. E, mesmo assim, para proteger os próprios americanos, deixando aliados estratégico um tanto frustrados. Esta posição realista não se estende somente a Israel, caso mais emblemático dos dilemas muito próximos aos EUA, mas também aos rebeldes sírios – que chegaram a uma situação de impasse na guerra que travam contra as forças de Bashar al-Assad porque a ajuda militar ocidental (em grande parte americana) não vai chegar. 

“O legado da Guerra do Iraque ainda domina a política externa dos EUA”, escreve Robert D. Kaplan, analista-chefe do Stratfor. É isso mesmo. E quando Kaplan diz isso se refere ao temor de uma nova empreitada no Oriente Médio duradoura, cara e traumática. Obama foi contrário à Guerra do Iraque. A estipulação de prazos claros para encerrar a presença no Afeganistão mostra o quanto o presidente americano pretende retomar os objetivos originais da invasão ao país, em 2001. A resposta aos ataques de 11 de Setembro tinha como objetivo simplesmente impedir que o Afeganistão prosseguisse como território livre e seguro para a al-Qaeda. Como na prática os desafios de acabar com a presença do grupo terrorista no país se mostraram muito mais complexos do que se previa originalmente, a Casa Branca se viu afundada em algo impossível de se concretizar: a construção de um país seguro, livre e democrático. O tipo de desafio que Obama não quer enfrentar. 

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