sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Paquistão: é bom ficar de olho no país em 2013


O sudeste asiático é alvo de disputas tão acirradas quanto as do Oriente Médio. Talvez seja menos glamoroso, mas nem por isso menos importante examinar as possibilidades que tornam a região igualmente explosiva. O caso clássico envolve a disputa entre Índia e Paquistão, dois gigantes populacionais com capacidade nuclear. Como já vimos tantas vezes, o equilíbrio de poder entre os dois é fundamental para a manutenção da tênue situação pacífica, mas altamente beligerante. O Paquistão é, no momento, o principal foco de instabilidade, uma vez que, além da atuação altamente questionável na contenção do Talibã e da al-Qaeda, sofre pressões internas – civis, militares e governamentais – para romper a frágil aliança com os EUA. 

Para completar, o Paquistão passará por eleições gerais em 2013 (assim como Irã e Israel). Os paquistaneses possuem um histórico de instabilidade maior que os outros dois países. Isso porque, além de toda a pressão interna, os três poderes disputam entre si; o governo civil contra os militares, e o judiciário contra todos. A tensão com a Índia é foco de grandes despesas militares, e, agora, o agravamento da situação pode extrapolar os limites regionais. O arsenal nuclear do país é que cresce mais rápido no mundo e, segundo o Consórcio da União Europeia para Não-Proliferação, os mísseis de longo alcance paquistaneses poderão atingir, inclusive, parte das bases e instalações militares de membro da UE. 

Outros aspectos podem contribuir para a instabilidade interna; a economia vai mal das pernas. De acordo com os pesquisadores Mohsin Khan (Rafik Hariri Middle East Center) e Shuja Nawaz (South Asia Center), somente um crescimento anual entre 7% e 8% poderia criar empregos suficientes – lembrando que a taxa de desemprego de somente 5,6% nem é das mais altas. O problema no país é o subemprego, que paga mal e freia o poder de consumo. Do ponto de vista estratégico, a situação é ainda mais complicada devido a alguns fatores: se não bastasse o envolvimento inevitável no Afeganistão, o governo paquistanês trava sua própria guerra interna no sudoeste do país. A província do Baluchistão é tão lucrativa quanto problemática. Repleta de petróleo o gás, faz fronteira com o Irã. Como se sabe, o Estado iraniano é formado por 89% de população xiita e a maior parte dos 20% dos xiitas paquistaneses vivem justamente no Baluchistão. 

O movimento nacionalista do Baluchistão existe desde a criação do Paquistão, em 1947. Os conflitos entre militantes balúchis e o poder central de Islamabad são tão intensos que, nos últimos dez anos, matou mais do que o conflito entre israelenses e palestinos no mesmo período. Cerca de oito mil balúchis (entre militantes, intelectuais e líderes políticos) foram mortos. Enquanto o Paquistão acusa Índia e Afeganistão de prover a população com treinamento e armas, o Irã pode vir a interferir na situação em algum momento, na medida em que o país também tem problemas com o Baluchistão iraniano, tornando esta questão foco de instabilidade regional a duas de suas principais potências. 

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