quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Tunísia perde chance importante


Quando o politico de esquerda Chokri Belaid foi assassinado no último dia 6 de fevereiro, a Tunísia entrou em colapso. A frágil estabilidade ruiu de forma assustadora, acendendo o alerta vermelho aos esperançosos quanto as consequências práticas da Primavera Árabe. Desde então, o que se pôde ver foram protestos populares nas ruas, trocas de acusações e o recrudescimento da corrente mais intransigente do Ennahda, o partido que pretende conjugar islamismo e política e principal vencedor das primeiras eleições após a derrubada do presidente Zine al-Abidine Ben Ali. 

Quem mais perde com isso é a Tunísia, claro. Do ponto de vista econômico, por exemplo, este aparente retrocesso já custou um rebaixamento significativo da classificação da agência de risco Standard & Poor’s. Por mais questionável e um tanto perverso que seja o trabalho da empresa, é inegável o impacto representado por uma fuga de capitais. Ainda mais quando se leva em conta que o país está num processo de reconstrução que vai muito além da economia. Resgatar a credibilidade e a eficiência das próprias instituições talvez seja até mais importante neste momento. O fato é que entrar num vácuo de incertezas não deveria ser uma opção. 

Para completar, o primeiro-ministro Hamadi Jebali (foto) renunciou. O líder político tinha um enorme valor neste ambiente de vazio. Em primeiro lugar, foi um dos fundadores do próprio Ennahda. Engenheiro e jornalista, Jebali entendeu que neste momento é importante salvar as conquistas que tornaram a Tunísia o centro propulsor da Primavera Árabe. Com trânsito internacional e ampla experiência política, apresentou a proposta sobre a qual tratei por aqui na última semana: acabar com os protestos e unir o país dando uma trégua às rivalidades a partir de uma medida tão pragmática quanto radical; a formação de um governo composto estritamente de técnicos,  dando uma pausa nas disputas religiosas e políticas em nome da garantia de um período de estabilidade. 

Acho que seria uma saída. Até porque, como costumo repetir, encontrar pragmatismo no Oriente Médio é raridade. Encontrar um líder político ocupando um cargo disposto a tomar medidas realmente pragmáticas é quase impossível. A Tunísia acaba de perder essa chance. 

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