quarta-feira, 17 de abril de 2013

Atentados em Boston e a dificuldade americana para impedir atos de terrorismo no país

Alguns comentários importantes sobre o duplo atentado em Boston: que ninguém duvide se tratar de um ato de terrorismo. Afinal de contas, a definição deste tipo de ato covarde tem a ver estritamente com a ideia por trás do fato concreto. O terrorismo tem por objetivo o ataque a civis para causar morte, pânico e insegurança generalizada. Este tipo de operação é absolutamente independente de quem a realiza.

Ou seja, para ser mais claro, os fundamentalistas islâmicos não detêm seu monopólio, muito pelo contrário. As mais variadas bandeiras religiosas e ideológicas já praticaram ou ainda praticam atos de terrorismo. Tenho lido muitas bobagens neste primeiro momento seguinte ao atentado, mas isso deve diminuir à medida que a poeira baixar e as investigações apresentarem resultados. E não tenho dúvidas de que isso irá acontecer em breve.

De fato, é importante lembrar que o duplo atentado desta semana é o primeiro ato de terrorismo realizado com sucesso em solo americano desde o 11 de Setembro. Houve uma tentativa frustrada de detonar explosivos escondidos na mala de um carro em Nova Iorque, em 2010. Ou seja, este é também o primeiro desafio que Barack Obama enfrenta – considerando atentados terroristas domésticos.

Vale dizer também que o medo da população americana pode aumentar devido a um fator básico: a sofisticação das ameaças. Hoje há gente demais capacitada a construir artefatos que podem causar grande destruição a partir de itens comuns comprados legalmente em lojas e mercados. Este tipo de armamento recebe o nome de Improvised Explosive Devices (IEDs) e as forças armadas dos EUA enfrentam esta ameaça já há algum tempo em Afeganistão e Iraque. Na prática, é quase impossível estar completamente seguro diante desta possibilidade real de construção de explosivos a partir da combinação de itens do cotidiano.

Para completar, acho que vale fazer uma comparação entre Israel e EUA. Como se sabe, a população civil israelense é alvo de atentados terroristas há décadas, ao contrário dos americanos. No entanto, os dois aliados possuem características políticas e geográficas distintas, o que os tornam semelhantes em vantagens e desvantagens diante do terrorismo.

Israel é um país com extensão territorial infinitamente inferior aos EUA (Israel tem mais ou menos dimensões equivalentes à metade do estado do Rio de Janeiro), suas forças de segurança estão acostumadas a lidar com atos de terror, e a maioria de sua população tem treinamento militar, uma vez que o serviço é obrigatório a homens e mulheres. Essas características são vantajosas ao Estado judeu. No entanto, o país está sob constante ameaça internacional, os vizinhos são hostis e dois de seus principais inimigos declarados estão instalados nas fronteiras norte (o Hezbollah, no Líbano) e sul (Hamas, em Gaza).

Os EUA têm dimensões continentais e seu território é protegido por oceanos nas costas leste (Atlântico) e oeste (Pacífico), isolando historicamente inimigos e dificultando eventuais tentativas de ataques tradicionais. Para completar, possui boas relações institucionais com seus vizinhos de fronteira ao norte (Canadá) e ao sul (México), neutralizando qualquer ameaça de disputa em longo prazo. Entretanto, a maior potência do planeta é vítima, entre outros fatores, da própria grandiosidade. É impossível monitorar seus 316 milhões de habitantes e suas atividades diárias.

Nenhum comentário: