quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Na Síria, erros de avaliação dos dois principais interessados

Começo este post de hoje com um trecho de um ótimo texto de George Friedman, diretor e fundador do Stratfor, a principal empresa privada de análise política dos EUA: “O que começou a definir a posição americana sobre o assunto (Síria) foi uma declaração do presidente (Obama) em 2012, quando ele disse que o uso de armamento químico seria a ‘linha vermelha’. Isso não significaria que iria intervir. Ele estabeleceu a linha vermelha porque imaginou que (o uso de armas químicas) seria justamente o que Assad não faria”. 

Acho esta análise ótima porque ela resume bem duas questões que considero fundamentais para a compreensão deste momento e que venho tentando deixar muito claras por aqui: a primeira delas é que os EUA não têm qualquer interesse numa nova intervenção no Oriente Médio; não há apoio popular, o país está fatigado por duas aventuras militares na região que ainda custam caro demais sob todos os aspectos e não há qualquer vantagem ou benefício nesta guerra para a qual os americanos caminham. 

A outra posição é mais simples: os eventos que deixaram os EUA na iminência de uma nova guerra me parecem fruto de uma série de acontecimentos externos e alheios à vontade política do presidente Obama. Nem o próprio Obama, nem seus assessores foram capazes de prever que, aparentemente, Bashar al-Assad seria mesmo capaz de ultrapassar a “linha vermelha” estabelecida. 

Para completar, ao dizer em alto e bom seu que seu governo não toleraria ataques com este tipo de armamento, na prática Obama dava um “voto de confiança” ao presidente sírio – ele poderia fazer o que bem entendesse, desde que não incluísse lançar mão de seu arsenal químico.  E o Ocidente dava provas mesmo de seu comprometimento de não agir na Síria, uma vez que após dois anos e meio de violência no país e, até duas semanas atrás, nenhum líder mundial fizera qualquer menção a uma ação militar. Se foi mesmo responsável pelos ataques químicos (como parece ser o caso), Bashar al-Assad convidou os EUA para a guerra propositalmente (algo que para mim soa completamente descabido) ou decidiu apostar alto que os americanos silenciariam sobre o assunto (igualmente um tremendo equívoco). 

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