terça-feira, 27 de maio de 2014

Na Europa, a extrema-direita sai fortalecida das urnas

O resultado das eleições gerais europeias lança uma perspectiva sombria: como imaginar a UE sem a participação de Reino Unido e França? Esta é uma possibilidade real, considerando que as vozes contrárias ao bloco foram amplamente vitoriosas nesses países. Com 12% de desemprego, a chamada zona do euro inspira cada vez mais desconfiança em seus 500 milhões de habitantes. 

E não é para menos. O problema é que os discursos que “arrebataram” votos em França e Reino Unido são, basicamente, fundamentados em repúdio à imigração e ao próprio conceito de livre trânsito – possivelmente, o conceito mais inovador do bloco. Não se tratava de uma novidade, mas nunca antes ele havia sido aplicado com tal extensão. 

Depois de seis anos de crise, parte considerável da população europeia quer rever esta ideia. Pelo menos é essa a mensagem que emerge das urnas. No caso do Reino Unido, a situação é ainda mais evidente. O UKIP (sobre o qual escrevi bastante nos textos anteriores) não consegue muito sucesso entre os britânicos nas eleições domésticas. O partido não tem um parlamentar sequer na Grã-Bretanha. Mas foi um dos grandes vencedores no pleito europeu graças a esse discurso notadamente anti-imigração. 

Na França, Marine Le Pen confirmou a popularidade que se já conhecia de eleições anteriores. O líder do UKIP, Nigel Farage, e Le Pen podem vir a consolidar uma parceria para lá de esquizofrênica no Parlamento Europeu. Em Bruxelas, podem se unir para destruir o bloco. 

Resta aos partidos tradicionais – com discursos menos inflamados e com projetos políticos mais complexos – entender a mensagem recebida nesta votação. Precisam dar uma resposta aos eleitores. Certamente não com o veneno e o rancor extremista de UKIP e Frente Nacional (o partido de Le Pen), mas discutindo de frente o projeto europeu e como a ideia de livre trânsito e as questões relativas à imigração serão tratadas nesses tempos de crise. Se a população opta por fortalecer os radicais, cabe aos mais responsáveis acalmar os ânimos e encontrar soluções menos simplórias e rancorosas. 

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