quinta-feira, 5 de junho de 2014

Mesmo sem causar interesse, a chance de independência da Escócia oferece uma oportunidade de análise do cenário europeu

Dessa vez, passo rapidamente por mais um assunto que tem sido ignorado por aqui. No dia 18 de setembro, a Escócia pode decidir oficialmente se separar do Reino Unido. A imprensa daqui tem todos os motivos do mundo para não dar a menor importância a isso, mas quero abordar o tema de uma maneira mais ampla. 

A Escócia é parte do Reino Unido desde 1707. A ideia de independência não é nova, mas dessa vez é chegada a hora da decisão. Este movimento passa a ter alguma importância porque reflete o momento de reconstrução das identidades e da geopolítica europeias já com meia década transcorrida da crise. Os Estados nacionais estão enfraquecidos e questionados porque não conseguiram apresentar soluções satisfatórias às pessoas comuns. O nacionalismo tende a ser visto com mais boa vontade em tempos assim. Foi o que mostraram também os resultados das eleições recentes ao Parlamento Europeu sobre as quais escrevi bastante por aqui no blog.

O caso escocês é interessante porque coloca o Reino Unido como um todo diante de um dilema. Caso de fato a Escócia decida se tornar independente, a Grã-Bretanha perde de cara 5,3 milhões de pessoas – numa época em que volume populacional é fator importante de impulso econômico, este é um dado relevante. Principalmente quando os britânicos ocupam posição de destaque no ranking das dez maiores potências da economia mundial e se  veem ameaçados pela força dos países emergentes e suas grandes populações. 

Curiosamente, o movimento nacionalista escocês quer deixar para trás o Reino Unido, mas não a União Europeia. E, em função disso, a própria UE e, claro, o governo central britânico em Londres já deixaram claro que a Escócia deveria repensar a independência. Caso decida seguir adiante, argumentam, terá de esperar na fila de adesão – atrás de Sérvia, Montenegro e Macedônia. A abordagem da UE é similar diante das pretensões de independência da Catalunha. Em Bruxelas, sede política do bloco europeu, as reivindicações catalã e escocesa são tratadas de maneira  interligada. Corretamente, a análise é que a independência de um reforça a do outro. Para azar de nacionalistas catalães e escoceses, a adesão de novos países deve ser aprovada de forma unânime pelos Estados-membros.

Na minha opinião, mesmo em tempos de vacas magras, a valorização da UE tem duas explicações razoáveis: a primeira é a busca por legitimidade internacional, naturalmente. A segunda tem a ver com a visão de que esses pequenos países possivelmente terão economia fraca e precisarão importar boa parte do que forem consumir. Diante disso, o isolamento não é uma possibilidade. Bem ou mal, apesar dos resultados ainda modestos nesses seis anos de crise, a  esperança é que, cedo ou tarde, a zona do euro se recupere. 

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