quinta-feira, 31 de julho de 2014

Gaza sem o Hamas?

Acho sempre muito interessante conhecer opiniões distintas sobre o mesmo assunto. Como tem acontecido nesta questão atual, as pessoas têm as mais diversas ideias sobre alguns dos pontos centrais envolvendo a guerra entre Hamas e Israel. A ideia do blog é justamente analisar cenários e fugir dos slogans que povoam a internet e reduzem um conflito tão complexo a uma sucessão de banalidades e lugares-comuns. Por isso, no post de hoje decidi reproduzir três opiniões sobre a possibilidade de redução do papel central do Hamas no futuro palestino. 

“Se o Hamas fosse destruído, provavelmente terminaríamos (tendo de lidar) com algo ainda pior. Uma ameaça pior que chegaria ao tipo de ecossistema de lá (Gaza)... algo como a ISIS (Estado Islâmico do Iraque e da Síria)”. Esta é a opinião do general norte-americano Michael Flynn, que está deixando a direção da Agência de Inteligência de Defesa dos EUA. 

Aaron David Miller, conselheiro para assuntos do Oriente Médio dos diversos secretários de Estado norte-americanos entre 1978 e 2003 e hoje pesquisador do Woodrow Wilson International Center For Scholars segue caminho similar, embora elabore mais sua posição. 

“Reforma ou mudança de regime; esta é a questão central. (Deixar) Gaza sem rumo e sem lei nas mãos de algo como a ISIS ou a Jihad Islâmica seria fundamentalmente pior do que o ambiente que existe agora”, diz. 

E aí vem Amichai Magen com uma posição completamente oposta aos dois. Magen é pesquisador sênior do Instituto Internacional para Contraterrorismo e membro visitante da Hoover Institution na Universidade Stanford.

“Depois de tomar o controle de Gaza após um golpe violento (contra o Fatah) em 2007, o Hamas se tornou responsável por governar 1,8 milhão de palestinos. Este poder não serviu para moderar o Hamas, como muitos esperavam. Grupos como a ISIS  não conseguiram demonstrar nada perto deste poder de mobilização (militar do Hamas) e levaria décadas de atividades ininterruptas para (ISIS) atingir (este patamar de capacidade e poder)”, escreve. 

Ou seja, não existe consenso sobre um eventual futuro de Gaza sem o Hamas. Ninguém crava se isso seria positivo ou não para a estabilidade regional do Oriente Médio e para os próprios palestinos. Particularmente, creio que o melhor governo aos palestinos seria o da Autoridade Palestina. Seria interessante imaginar que, ao fim deste capítulo de confrontos, a AP emergisse novamente como a responsável pelo governo em Gaza. Esta disputa interna palestina entre Hamas e Fatah também é responsável pela incógnita que cerca a resolução do conflito atual. Se o presidente Mahmoud Abbas conseguisse encontrar uma maneira de retomar sua prevalência sobre todos os palestinos, não apenas os da Cisjordânia, acredito que os palestinos teriam mais a ganhar. 

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