quarta-feira, 9 de julho de 2014

Uma parte do Brasil morreu em 8 de julho

Arrigo Sacchi foi o técnico italiano derrotado naquela final contra o Brasil, em 1994. Neste momento de derrota – a pior delas –, acho que vale recorrer a uma frase dele que se tornou célebre: “o futebol é a coisa mais importante entre as coisas desimportantes”. Este pensamento resume bem o que penso sobre o assunto e justifica a razão pela qual decidi escrever sobre futebol num espaço dedicado a outras questões. 

O dia 8 de julho de 2014 passa para a história do Brasil como um dia trágico. E não estou brincando. Considero que uma parte do país morreu neste dia. Uma parte de todos os brasileiros morreu. Talvez muitos acreditem que eu pretenda superestimar um resultado esportivo, mas não se trata disso. A análise é curta, mas direta. 

Levar sete gols da Alemanha, no Brasil, numa semifinal de Copa do Mundo é o ápice de uma humilhação que o país não estava preparado para sofrer. Isso porque o futebol no Brasil não se resume somente a um esporte, pelo contrário; é um traço importante de identidade nacional, muito maior do que qualquer outro simbolismo. No Brasil, nenhuma manifestação religiosa, cultural ou artística provoca tamanha comoção. Tanto que este é o país do futebol muito mais do que o país do samba, do candomblé, da capoeira, da Floresta Amazônica, do Corcovado e todos os outros símbolos brasileiros. 

O Brasil foi humilhado em 8 de julho de 2014 naquilo que mais o define interna e externamente. Perder faz parte do jogo sim, mas perder desta maneira equivale a ser destruído numa batalha épica sem esboçar reação. Foi muito, muito pior do que a derrota de 1950. O país está em cacos por ter sua identidade nacional despedaçada em casa. Não é pouco. 

Mas ainda há esperanças. Podemos renascer se transformarmos esta derrota em símbolo de reconstrução do futebol brasileiro. Esta é uma grande oportunidade e seria lamentável desperdiçá-la. Este é o momento de o povo brasileiro se apropriar deste gigantesco traço de identidade nacional e exigir mudanças profundas na CBF. A seleção brasileira não é um ente isolado, mas uma parte do Brasil. Somos, muitas vezes, o país que não valoriza pesquisa, estratégia, planejamento de longo prazo. Perdemos para um país que faz o oposto. Esta é uma lição que extrapola o campo de futebol. 

Este é o momento de o próprio governo brasileiro relativizar esta privatização do futebol, exigindo transparência, responsabilidade e profissionalismo na gestão e dando voz ao Bom Senso F.C – organização fundada pelos jogadores profissionais brasileiros repleta de sugestões, mas com a qual a CBF se recusa a dialogar. Se nada for feito – e esta possibilidade de nada acontecer é muito real –, esta terá sido uma derrota humilhante, angustiante, triste e em vão. Ainda há maneiras de transformação depois do Mineirazzo. Resta saber o que será feito a partir disso. 

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