quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Egito e Sudão se unem para intervir na Líbia

O Egito tem um objetivo claro ao tentar frear o avanço de grupos terroristas na
Líbia: a reaproximação com o Ocidente. Após todo o confuso processo pós-Primavera Árabe, o Estado Egípcio perdeu fontes de receitas importantes, como o turismo, por exemplo. Para o pragmatismo dos militares que atualmente comandam o país é chegada a hora de retomar o rumo da relação com americanos e europeus. 

Na visão de Abdel Fattah El-Sisi, general e presidente egípcio, nada melhor do que a crise na Líbia para mostrar aos ocidentais que seu país é um parceiro confiável. A Líbia é o retrato do fracasso das decisões tomadas pelo Ocidente ainda no susto da Primavera Árabe. Consertar a situação local seria um grande resultado a apresentar. El Sisi considera ser capaz de lidar com os diferentes grupos terroristas líbios porque ele não tem os compromissos e vulnerabilidades dos países ocidentais. 

Para ser mais claro, o Egito não tem lá grandes amarras, como a zona de exclusão aérea da então coalizão ocidental. Seus militares farão o que for preciso para retomar partes do território líbio sem a necessidade de dar muitas explicações. A operação deve levar pelo menos seis meses, de acordo com autoridades egípcias. E, notem bem, a cobertura internacional sobre o assunto é praticamente nula. Sem chamar a mesma atenção de uma coalização internacional como a liderada por EUA, El Sisi está virtualmente livre para fazer o que quiser na Líbia. Tanto que seu parceiro na empreitada é ninguém menos que Omar al-Bashir, presidente do Sudão acusado de crimes contra a humanidade pelo Tribunal Penal Internacional. Em Darfur, já há mais de 480 mil mortos, além de 2,8 milhões de pessoas deslocadas. 

A cooperação entre Sudão e Egito não inspira lá muita confiança. Mas, como sempre escrevo por aqui, quando se trata de direitos humanos, a comunidade internacional é bastante seletiva quanto a que grupos merecem solidariedade. As centenas de milhares de sudaneses mortos nunca receberam apoio internacional. E Omar al-Bashir continua presidente. E faz até acordos de cooperação regional. 

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