quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Na França, terrorismo atinge jornalistas para calar a democracia

O terrorismo é uma forma de intimidação. O termo é autoexplicativo; a ideia é aterrorizar, causar medo e forçar seus opositores a recuar. Ao buscar o uso indiscriminado e deliberado da violência propositalmente voltado contra inocentes, está, portanto, deslegitimado. O que significa, claramente, que, sejam quais forem as supostas desculpas teóricas que tentam justificá-lo, simplesmente não é um método aceitável. 

Diante disso, o terrorismo presta um grande desserviço a qualquer causa porque, seja qual for esta causa, ela se torna automaticamente ilegítima a partir de sua forma de expressão violenta. Escrevi tudo isso porque imagino o que vem por aí; não me surpreenderei se, em algum momento, alguém disser que o ato de assassinato indiscriminado de trabalhadores da revista Charlie Hedbo tenha sido causado pela publicação de charges ou caricaturas ofensivas ao islamismo. Este não pode ser o foco da discussão a partir de agora. Cabe uma grande condenação ao ato e a seus autores, não do conteúdo da revista. 

Em virtude das caricaturas, a sede da revista já havia sido queimada, em novembro de 2011. Agora, o assassinato de jornalistas e desenhistas é um encerramento de um ciclo que tinha como objetivo calar a publicação e o que ela representava: a livre expressão. A lei existe para combater eventuais abusos da imprensa. A sociedade é o meio transparente de debater seus limites. Assassinatos e atos de violência não são parte do repertório democrático. Simples assim. 

Em setembro de 2012, após mais uma série de publicações polêmicas, o jornalista Laurent Leger deu uma declaração que serve perfeitamente para os acontecimentos deste 7 de janeiro:

“Na França, sempre temos o direito de escrever e desenhar. Se há aqueles que não estão felizes com isso, podem nos processar e nós podemos nos defender. Assim é a democracia. Você não joga bombas, mas discute, debate. Precisamos resistir à pressão do extremismo”. 

Os jornalistas e desenhistas da revista precisaram pagar com as próprias vidas pela ousadia da livre expressão e do humor. 

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